segunda-feira, 29 de maio de 2006

Para um Grande, Antigo e Eterno Amigo!

Como apenas mais um ser humano tenho a certeza total de umas poucas coisas: houve um dia em que nasci, e haverá um dia em que morrerei...de tudo o resto não se tem a certeza, até porque se o contrário se verificasse e tivéssemos a certeza de tudo, que piada teria a vida? Nenhuma, digo eu...mas também sou só eu.
Não me prolongarei aqui com mais devaneios porque para isso tenho eu um blog...O que eu quero realmente dizer é que todas as incertezas parecem muito mais simples de resolver contigo por perto. Não apenas por seres inteligente, que isso também dá jeito, mas sim por seres uma das poucas, mesmo poucas, pessoas em quem confio cegamente.
Como já te disse em ocasiões passadas, eu considero-te mesmo um irmão, com quem posso desabafar completamente à vontade sem ter de ter medo de possíveis intrigas ou boatos despertados por bocas incessantes.
Isto tudo para te felicitar por estes 16 anos bem cumpridos e sobretudo para te agradecer pelo que já fizeste por mim em apenas 4 anos, e também para reforçar as esperanças que tenho desta relação de pura amizade se prolongar por muitos mais múltiplos de 4!
Não me vou pôr aqui a enumerar cada coisa que te devo gratidão porque prometi não prolongar muito esta pequena rábula em tua homenagem, uma homenagem muito simples e modesta mas uma homenagem possível de ser feita numas quantas horas e com meios limitadíssimos.
Como tu já o puseste noutras dedicatórias de finais de ano, não me vou pôr com grandes aclamações já que, espero eu, te verei por muitos mais anos; por isso, muitos parabéns e um eterno "até amanhã"!

domingo, 28 de maio de 2006

Como Podem Ler Um Bocadinho A Cima, Hoje É Dia 28!

E perguntam os leitores mais distraídos: "E que tem ser dia 28 haam?" E eu respondo: É o aniversário do meu caro amigo James, ex-co-autor neste blog (retirou-se apenas porque lhe deu na gana) e meu grande, antigo e eterno amigalhaço!
Não podia deixar de sublinhar este dia. A tua prenda não poderá ser tão boa como um concerto dos System igual ao ano passado mas vais ter de te contentar!
Muitos parabéns, que contes imensos mais e muito felizes e prósperos! (e que já agora eu esteja lá para aplaudi-los!)

Abraço enorme! Sempre aqui ;)

quarta-feira, 24 de maio de 2006

Raiva, Ódio, Traição, Mentira, Hipocrisia

Um título cheio de sentimentos negativos para um texto escrito por uma pessoa cujo seu coração está apertado so de ver tanta, perdoem-me a expressão, "merda" à minha volta: desde à mãe que traz o seu filho para mendigar consigo só para obter mais trocos do que se mendigasse sozinha; até à amizade que se desvanece passando a sensação de mãos que se deslargam pouco a pouco, tendo um par, o abismo como fim.
Vejo isto tudo e penso para mim: Que poderei eu fazer? E depois, quando me começo a organizar para fazer alguma coisa, sou atingido pela onda nefasta que inunda o mundo!
Tento ser bom e justo, mas se outros opinam de modo diferente sobre mim aí influenciam todos os demais e passo a ter "reputações", que me cortam as asas mesmo antes de as começar a bater!
Sempre aprendi a viver segundo o princípio de que, antes de eu conhecer uma pessoa, devo sempre achar que ela é boa e honesta: só assim poderei viver de queixo levantado e de bem com tudo e todos. Mas constantemente sou contrariado neste meu princípio herditário de pais para filhos: vezes e vezes sem conta vejo pessoas a nem sequer se preocuparem com o outro, a discriminarem o outro por qualquer razão que seja, ou a julgarem precipitadamente o outro! Que o julgem!! Mas que guardem o seu julgamente para elas mesmas e não o deixem influenciar na sua primeira abordagem!
Chega de me atribuirem uma reputação, um esteriótipo!

quinta-feira, 18 de maio de 2006

segunda-feira, 15 de maio de 2006

Vê O Lado Bom Da Vida

- Como é que sabes se os bois têm paciência? Mas diz lá, precisas de paciência de boi para quê?
- Para alguém que não sabe encenar.
- ‘Tás a falar dela, é?
- Não, do Timóteo.
- Okay, o sarcasmo era escusado… Mas ela tem razão… no que te disse a ti e a mim…
- Que é que ela te disse, mesmo?
- Disse que eu não podia repetir o “não me julgues” porque senão perdia a força da ideia… Porque se repetes uma coisa muitas vezes, torna-se chata e perde a força toda… Tenho de me concentrar nas ideias: “Não me julgues”, pronto. E depois, “p’la música, p’lo que leio, p’la forma como me visto e p’las palhaçadas” e pronto. Não posso repetir tanto… E o que a ‘stôra’ te disse de não andares de uma forma desorganizada também ‘tá certo! Além disso, o que fizemos ontem correu-nos pior do que da última vez, porque foi ‘bué’ violento para nós… ter de vir da visita e assim do nada termos de fazer aquilo!
- Mas tem razão uma merda! A gaja não sabia inventar uma peça com princípio, meio e fim?
- Olha lá, tens de ter calma, pá! Ela pediu-nos textos sobre o tema… e ontem ouvia-a a falar com a Catarina sobre aproveitarmos momentos da última encenação e acrescentar novos.
- Pois…! E o que é que ela disse da peça?! Foi uma merda! E esta, vai ser…?! ‘TSCHANAN’!!! UMA MERDA CAGADA!
- Não, não vai! Nesta não temos prazos. Para além de que os textos são muito melhores!
- Pois não. Prazos não temos, mas temo-la a ela!
- Mas podemos melhorar muito mais os momentos da outra!
- E mais! Quando lhe mostrei pela primeira vez o meu trabalho, disse-me que tinha de andar mais perdido, sem seguir uma trajectória já definida! E ontem fiz isso! E o que é que ela disse? Para seguir “uma trajectória já definida”!
- Oh pá, agora ‘tás apenas a ser parvo e não ‘tás a saber aceitar a crítica que, deixa que te diga, tem muito fundamento. Ela avisou-nos desde o início que o que se faz ali é muito diferente do teatro fingido com falas que ‘tás a pedir. Aquela cena ali é muito diferente, porque o que tu queres fazer, qualquer um faz!
- Não, é assim! Vou-me lançar este Verão assim que acabem os testes e não me apanham lá p’ró ano! E não se fala mais nisso!
- Okay, faz o que quiseres. Força aí, hein?
- Ah, pois faço! Já não estou para a aturar! Há outras maneiras de corrigir os erros, que não ser bruto!
- Pois eu cá não acho isso, sabes…? Concordo perfeitamente com o que ela nos disse no caminho para a estação. Se ela não fosse assim, nós ainda não fazíamos o que fazemos agora! Com certeza ainda ‘távamos tão presos quanto a Telma! Mas não… temos textos ao nível de muitos antigos e com representações igualmente boas. Evoluímos em 6 meses, e isso é fantástico! E porquê? Porque ela é assim connosco, em vez de nos fazer festinhas nas costas e a dizer “oh coitadinho, sai melhor para a próxima…”. Não! Obriga-nos a trabalhar no duro com críticas fortes!
- Ninguém, mas ninguém pede “nhanhanha”! Eu não peço “nhanhanha”, nem quero “nhanhanha”! E não foi à conta dela que evoluí, digas o que disseres.
- Claro que não! Tu és o maior, é claro!
- Pá… Sarcasmo, tudo bem. Mas continuo a dizer que não foi à conta dela.
- Não ‘tou a ser sarcástico… ‘Tou a ser realista. Ultimamente perdeste uma qualidade que gostava muito em ti… a humildade. Evoluíste à conta de quê, afinal?
- De mim próprio. De querer fazer uma merda qualquer que fosse original, criativa e inteligente. E por muito perfeito que alguma coisa seja, que não minha, obviamente, ela vai encontrar sempre uma merda qualquer. E pá, deixa rolar. Não vou abandonar os meus companheiros nesta altura, mas p'ró ano não tenho tanta certeza disso.
- Okay, a vontade de fazer uma merda original e criativa temos todos, incluindo a Telma e a Fábia. Mas eu refiro-me à capacidade que agora temos de nos soltar ali em cima! E isso acontece graças a quê? Aos exercícios. À forma como ela nos trata desde o início, sempre a aconselhar-nos… Tens de perceber que ela só é exigente para o nosso bem, e é graças a ela, sim, que nós agora somos naquele Teatro o que somos. Caso isso não acontecesse, os ensaios seriam sempre balbúrdias! Nunca faríamos progressos nenhuns e continuaríamos sempre a agarrar-nos a estereótipos, se não fosse a percepção dela de perceber o que é nosso ou não. Sim, ela é dura um pouco demais, de vez em quando, mas é graças a ela que tu és tão bom como és agora, e… pensa melhor! Se não fosse pelo que evoluíste no Teatro, a Melissa não teria reparado em ti e nunca terias feito essa curta-metragem! Lembra-te! Lembra-te de quem te ajudou a ser o que és! Nunca percas a humildade, como o que ‘tás a fazer agora! Porque, repara, eu não ‘tou contra a ideia de saíres de lá! Qualquer um faz isso quando quiser, como é óbvio! Mas o que ‘tás p’raí a dizer de teres evoluído sozinho é totalmente mentira, e sabes que mais?! Estou absolutamente contra a ideia de perderes a humildade que tinhas! Volta a fazer isso, e nunca mais vais a lado nenhum na tua vida!

(Atenção a todos os leitores: este texto é inventado pelo Tiago e por mim, sendo todas as opiniões negativas sobre qualquer pessoa apenas fictícias, e nem ele nem eu partilhamos dessas opiniões. Este texto é fruto de uma grande imaginação do Tiago e de eu ser um bom rapaz xD. Pedimos perdão se qualquer dos visados se ofendam mas não é, de todo, a nossa intenção. Pretendemos dar uma lição de moral e mostrar como o teatro é importante para nós!)

quarta-feira, 10 de maio de 2006

"Notas Mentais" - Parte III

Capítulo III – “Stress” Laboral


- Oi, senhora Rita Pires! – diz Ricardo num tom sarcástico.
- Boa tarde Ricky! – saúda-o ela, sempre bem disposta e com um tom de voz radiante.

“Como eu adoro a sua voz!”
- Está tudo bem contigo? – aprofunda ele a conversa.
- Sim…sou casada e feliz…tenho um bom trabalho e bons amigos… - diz ela.

“Noto alguma falsidade nesta frase. Se eu estivesse a escrever isto, empregaria umas quantas reticências; ela não sente o que diz e não diz o que sente…Será?”
- Passa-se alguma coisa? – interessa-se ele.
- …Não…porque se passaria algo? – hesita ela.
- Não sei Rita…por isso pergunto-te…
- Não te preocupes. – diz ela antes de lhe beijar na face despedindo-se dele.

“Ela mente…é-me óbvio! Mas o que se passará então? Será que é alguma coisa no trabalho? Não, a Rita sempre foi cheia de vida, não era apenas “stress” laboral que a ia deitar abaixo. Então se não é no trabalho é no casamento…Será o marido dela infiel? Se ele o for apenas me vem confirmar a sua estupidez…nunca que ele encontrará alguém sequer minimamente parecida com a Rita! Ela é única em todos os aspectos. A meus olhos ela é perfeita…perfeita no meio de uma espécie humana toda ela imperfeita…”

- Rita, espera! – chama-la Ricardo.
- O que foi agora?! – levanta ela o tom de voz.
- Eu sei, por todos os anos que te conheço, que alguma coisa de errado se passa contigo, e parte-me o coração saber que tu não confias em mim o suficiente para desabafares comigo! Tu sabes, desde há muito tempo, que eu estarei sempre ao teu lado. Procura-me para o que tu quiseres…
- Oh Ricardo…Ricky… - esboça ela um sorriso breve – nem tu imaginas a gravidade do que me apoquenta…como fui estúpida… - e ao dizer isto, o sorriso esmorece e transforma-se num choro desesperado.
- Rita…nunca te vi desta maneira…que se passa? O que tens? O que te preocupa? – ele também entra em desespero ao ver o seu amor secreto a esvair-se em lágrimas.

“É agora…Tem de ser agora! Serei eu assim tão cobarde para passar 10 anos a amar uma pessoa e não lhe exprimir o meu sentimento!? Terei eu de recorrer mais uma vez a um bilhetinho?! Quem sou eu?! Eu nem me reconheço mais…Vou acabar isto de uma vez por todas porque senão nunca que conseguirei continuar a viver sabendo que a única pessoa neste mundo que eu amo está infeliz! Não vou aguentar saber que aquela doce menina, que veio falar comigo na primária, não tem metade da felicidade que ela merece! Não me vou conseguir olhar no espelho de manhã ao saber que a rapariga que sempre esteve ao meu lado quando eu mais precisava, chora pelos cantos como se não houvesse um amanhã!
Ela, que foi a única que veio falar comigo, e graças a ela fiquei imediatamente muito mais descontraído! Ela, que sempre me fez sentir bem nos momentos em que isso parecia impossível! Ela, que foi a única que me consolou quando mais um namoro meu não funcionava! Ela, que foi, durante alguns anos, a única pessoa que me passava a cara pela mão, porque todos os outros tinham nojo das borbulhas! Ela, que foi a única que me incentivou a seguir um curso de comunicação social e graças a isso, hoje trabalho numa rádio! Ela, que foi a única que me ofereceu o seu ombro para chorar a morte da minha avó…e ainda hoje o faz…porque eu ainda hoje o faço…
Se eu não faço isto agora nunca mais farei nada na minha vida, porque ela, a minha vida, perderá todo o pouco sentido que tem ou que alguma vez teve…
Mesmo que eu saia daqui pior do que aqui cheguei; mesmo que ela me diga não; para sempre estarei de consciência limpa, pois quando a altura chegou eu tive a coragem de acabar com isto tudo, que já se prolonga por demasiado tempo…por demasiada tinta…”

- Rita…olha para mim. – diz ele, gaguejando – Sabes o que vejo neste momento?
-O quê? – pergunta ela, soluçando.
- Uma menina doce, assustada porque o disfarce da rapariga forte foi desfeito. Uma rapariga linda que faz qualquer um sorrir apenas com o seu sorriso, apenas com os seus cabelos de ouro, apenas com o seu toque de veludo, apenas com a sua voz de mel…Uma mulher que faz qualquer um tremer com a sua silhueta; que faz qualquer um cair a seus pés ao deslumbrarem tamanha beleza, tamanha elegância e suavidade! Tu…tu não és humana, não o podes ser, pois eu, que já vi muita gente, nunca que me tinha deparado com tamanha perfeição…uma perfeição sublime; uma redundância: uma perfeição da mais perfeita que pode existir!

A única resposta que ela consegue dar a este discurso todo é corar e algumas lágrimas que lhe começam a correr pelo rosto. Ele continua sem nunca hesitar; nunca esteve mais determinado, mesmo sem perceber de que tipo são as lágrimas – alegria ou tristeza.

- É assim que eu te vejo, e como me enlouquece quem não te vê desta forma! Nem mesmo um cego pode dizer o contrário disto tudo porque apenas com a audição percebe a tua perfeição pela voz…pelo toque e pelo teu cheiro, porque tudo isso é perfeito em ti! É quando olho para ti que realmente acredito em Deus! Porque só umas mãos divinas conseguiriam fazer algo tão belo…algo tão puro mas ao mesmo tempo sensual…algo tão doce.

Ela cora ainda mais, e agora ele percebe de que tipo são as lágrimas graças ao sorriso que começa a rasgar a face dela.

- E, abreviando, o que eu quero dizer, com este discurso apaixonado, é precisamente o que se pode ler nas entrelinhas e ouvir nos gaguejos…Eu amo-te Rita e percebo agora que desde a primeira vez que te vi, naquela sala primária, que te amo. Já há 20 anos que te amo, mas desde sempre que me tentei enganar e dizer o contrário por pura cobardice. Por puro medo de dizer isto tudo a um anjo! Contigo tudo fica mais claro, mais simples, mais belo. E logo na primária eu me apercebi disso, mas acho que por causa da admiração da descoberta não quis acreditar que assim fosse. Perdoa-me…
- Perdoar-te porquê? – lá responde ela a este discurso dele, depois de conseguir recuperar o fôlego, depois de parar de soluçar.
- Perdoa o meu “timing”. Só agora, que tu estás casada, é que te digo tudo o que já sabia há mais de 15 anos…
- Oh Ricardo…Ricardo! – exclama ela para ele enquanto lhe põe as mãos na cara e se aproxima dele, já a chorar de felicidade.

E depois de tanto tempo, o beijo ocorre. Tudo pára para os dois. Ricardo vê a sua vida a passar-lhe à frente dos olhos e percebe agora todos aqueles momentos que tinham ficado enevoados na sua memória, nos quais Rita lhe tentava mandar sinais sublimes, como tudo o que a mulher faz, a ele.


“Agora descobri o que me faltava; o que me faltava na alma; o que me faltava dentro de mim mesmo logo ao nascer. Entendo tudo de uma outra forma: Todos nós nascemos incompletos, alguns apercebem-se disso e outros não. Eu tive a sorte de me aperceber disso assim que nasci. O nosso objectivo de vida é encontrarmos o “pedaço” de alma que nos falta…o “pedaço” de nós que foi-nos retirado antes de nascermos. Para sobrevivermos por todas as fases piores da vida precisamos de ter um objectivo interior e maior do que todos os outros. Um objectivo tal que nos possa servir de amparo para quando estamos prestes a atingir o fundo mais tenebroso e obscuro possível!
Com este beijo, percebo agora que atingi o meu! Encontrei o pedaço que me faltava, e que, ironicamente, sempre esteve a meu lado.
Obrigado avó! Deves ter tido algo haver com isto, só assim se explica a forma como a Rita e eu permanecemos sempre nas mesmas turmas, sempre vizinhos apesar de ambos nos termos mudado…Como fui cego!
A minha felicidade esteve sempre a meu lado a sorrir para mim!”


Depois deste encontro, Rita acabou por se divorciar. Ele e ela ficaram juntos, casaram-se e tiveram um filho.
Escusado será dizer que viveram felizes…não sei se para sempre mas pelo menos até hoje.
Hoje em dia são ambos uns avós babados e pais orgulhosos do seu filho. O filho deles, também chamado Ricardo, é um escritor de sucesso, que decidiu escrever a bela história do amor verdadeiro entre os seus pais.
Ela e ele passaram a ser um só, e até hoje o são, como que uma música romântica no …fim…

segunda-feira, 8 de maio de 2006

Podia Estar Em Qualquer Lugar, Mas Não Estou. E Por Isso, Eu Agora Quero Estar Aqui


-Olá! Tudo bem?!
-Bem, obrigado! Então vocês são...?
-Eu sou o Eliseu.
-Eu sou a Catarina.
-Eu sou a Andreia.
-Eu sou a Filipa.
-Olá, olá! Eu sou o Tiago.
-Já 'conhecestes' o pessoal, oh meu! 'Bora lá entrar, mas é, p'ra fazer uma 'baita' de cenas maradas, 'tás a ver?
-'Ja', 'stôra'... Não sei o que é que se vai passar, mas espero conseguir fazer essas cenas! Se há coisa que gosto de ser, é marado.
-Vieste ao sítio certo, pá!
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-Oláaaaaaaa! Há tanto tempo! 'Tão bonzinhos?
-'Tamos, e tu? 'Tás boa? Olha, estes são os "novos". É o Tiago, a Marta e o Ricardo.
-Eu quero toda a gente a cumprimentar toda a gente, okay? 'Tão parvos, ou quê?!
-Claro, 'stôra', longe de mim.
-É... és 'baita' de fresca, tu, pá.
-Olá, sou eu o Tiago.
-Okay, vamos começar? Então p'ra já, dêem as mãos. A esquerda por baixo e a direita por cima. Uma coisa fixe que ajuda a decorar os nomes uns dos outros, p'ra quem ainda não se conhece, é cantando isto: No Grupo de Teatro A-E-I-O-U, no Grupo de Teatro A-E-I-O-U. Nesse grupo havia uma...
-Não faço ideia!
-Ah, mas tens de fazer, então?
-Okay, vou tentar...
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-Imaginem que se encontram deitados sobre a areia, a ouvir os sons das ondas do mar. Lenta e carinhosamente, vão remexendo a areia com a palma das mãos, e sentem como é bom agarrar as pedrinhas... Ouvem, ao longe, os sons das gaivotas, que vão voando uma por uma acima das vossas cabeças. Permanecem, contudo, deitados sobre a areia... Consideram, quando for um bom dia, que devem tirar a roupa, para que se possam sentir mais leves... Começam por tirar a vossa t-shirt, que tem uma cor especial, que vocês escolheram de propósito para aquele dia, pois sabem que algo de que vocês estão à espera, vai acontecer mais tarde ou mais cedo. Enquanto não acontece, sintam, em todas as partes do vosso corpo, o conforto de estarem deitados na areia sem qualquer roupa. Começam pela cabeça, passando para a nuca, o pescoço, as costas, os órgãos sexuais, as pernas, os joelhos, e finalmente, os pés, até à ponta das unhas. Quando acharem que está um bom dia para isso, comecem a levantar as costas, até se sentarem... O mar... o mar, é especial. Sentem que talvez devessem tocá-lo... e sentir a água nas mãos suaves de cada um... passar a água pela cara, por todo o corpo... Então, começam a caminhar junto ao mar, levemente, tal como as ondas levemente afagam a areia, e a abraçam... Passa mais uma gaivota, e outra... Elas disfrutam de poderem viver os céus, e nós... de olhar para elas e para o céu. Há nuvens com formas engraçadas... umas parecem flores, outras parecem folhas, outras montanhas, e outras... são apenas nuvens... Cada um ao seu ritmo, quando achar que o deve fazer, levanta-se... E sintam o impacto que teve em vocês, imaginarem os sítios fantásticos com que cada um sonhou...
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-Dêem as mãos, e lembrem-se que é a esquerda por debaixo e a direita por cima. Olha lá, oh miúda! Que cena é essa? Não ouviste o que te disse?! Vá, vamos começar esta canção pela maneira mais calma, depois vamos acelerando: Ontara, tu ta re, tu re so ham...Ontara, tu ta re, tu re so ham...
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-Acho que é altura de começarmos a falar em trabalhar a sério, e o que é que eu quero dizer com isto? Quero dizer que o Grupo de Teatro vai fazer 20 anos, e que uma boa ideia para marcar os 20 anos, seria que cada um pensasse no que, para ele ou ela, é o Teatro, é estar no Grupo de Teatro. Talvez para os mais novos seja um pouco agressivo pensarem já nisso, até porque o tempo que cá estão não é assim tão grande, não é... Por isso, não sei se devam pensar nos vossos textos p'ra já, mas se se sentirem na necessidade disso, escrevem.
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-Ele tem um texto, eu sei que ele tem! Não quer é dizer!
-Não, eu não tenho texto nenhum, a sério! Eu prometo que p'rá semana já trago qualquer coisa, prometo mesmo!
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-Oh amigo, tens de dizer mais alto! Que cena é essa, então? Mais alto, faz favor!
-(Fónix... não me estão a ajudar nada...)
-Não, acho que 'tá bom... Não quero é que faças esses gestos assim, mas o texto em si 'tá bom.
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-Que merda, pá! Será que já são quase 21h00? Eu preciso de saber as horas! Alguém tem horas?! Ainda agora fui à casa-de-banho, já quero lá ir outra vez!!!
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-Foi fixe, ou não foi fixe?! Hein?! Correu bem! Não tem problema nenhum sentir nervosismo... É só sinal de que as coisas vão correr bem! Porque se o pessoal não se atina e pensa "ah e tal, já fiz uma vez, já sei como é", só vai fazer trampa, percebes?
-'Ja', 'ja'... Percebi!

segunda-feira, 1 de maio de 2006

"Notas Mentais" - Parte II

Capítulo II: Confusão “mentalo-armárica”


- Margarida, queres namorar comigo? – pergunta Ricardo a tremer…
- Sim! Agora sei que é um sim! – responde confiante Margarida.

“Finalmente, depois de três meses da minha primeira ‘tentativa’ ela diz-me que ‘sim!”

Margarida e Ricardo conheceram-se no 5º ano, na mesma turma, e desde do início que sempre foram excelentes amigos um para o outro, autênticos confidentes! Um dia, no início deste 7º ano, o Ricardo, envergonhado como ele é, entregou uma carta à Margarida que dizia: “Sabes, dou-me por feliz de ser teu amigo. És mesmo daquelas pessoas especiais! Mas eu gostava que fossemos mais do que amigos…queres namorar comigo?”
Ele próprio sabia que era uma cobardice entregar-lhe uma carta em vez de lhe falar na cara, mas o medo da negação foi maior e assim que ele lhe entregou a carta desatou a correr o mais rápido possível, fingindo-se surdo aos “ricardos” que Margarida gritava-lhe e aguardando a sua resposta no dia seguinte.
Mas no dia seguinte veio a palavra fatal, o “não”. E assim foi durante três meses nos quais Ricardo nunca desistiu de Margarida! Até a este dia, este belo dia em que a resposta finalmente mudou.


Passou-se um ano deste namoro, mas não resistiu a mais e acabou.

- Preciso de falar contigo. – murmura Ricardo à sua namorada, num tom pesaroso.
- Está bem, fala. – replicou Margarida. Ela já tinha previsto tal coisa, aquelas palavras não enganam ninguém e o Ricardo já andava diferente há um mês.
- Acho que não devemos continuar…não sei porquê mas já não sinto o que sentia por ti…a paixão acabou e não há amor por detrás dessa paixão que sustente este namoro…
- Não me deixes! – diz Margarida incrédula.

Margarida desata a chorar e abraça-se a Ricardo. Ela aproxima a sua boca da dele tentando roubar-lhe um beijo mas ele vira a cara…

“Desculpa…não sei o que se passa comigo…devo ser estúpido ao fazer-te juras de amor e depois vir com este discurso…não lhe devia ter virado a cara…que insensível!”


- Rita, não sei o que aconteceu comigo…tudo perdeu o sentido naquela relação… - tenta explicar Ricardo, usando Rita como confidente.
- Ás vezes acontece…as pessoas confundem amizade com amor…depois só existe paixão mas a paixão acaba, mais tarde ou mais cedo…a vossa durou um ano. – tenta consolar Ricardo que, apesar de ter sido ele a acabar tudo, se sente muito mal com ele mesmo.
- Acredito que sim…mas fui estúpido ao não prever isto…não lhe devia ter feito juras de amor e muito menos ter sido tão insensível da forma como acabei com ela…
- Acalma-te, dá tempo ao tempo e tu e ela esquecem tudo o que aconteceu neste dia e voltam a ser amigos – com esta frase, Rita consegue acalmar Ricardo que descansa a sua cabeça no colo dela.

“Não sei porquê, mas aqui sinto-me muito bem…com ela sinto-me muito bem. Nós pensamos de forma igual…que estranho…Ela sabe sempre o que dizer para me fazer sentir melhor. É tão carinhosa comigo.”


E assim aconteceu, passados poucos dias a amizade de Margarida e Ricardo superou qualquer mágoa, rancor ou culpa restantes daquele dia chuvoso, e agora, no 9º ano, continuam na mesma turma e muito amigos! Rita também continua com Ricardo na turma, sempre a apoiá-lo, sempre a ampará-lo.

- Hey Ricardo! – chama o Tiago.
- Então meu! Diz… - responde Ricardo
- Olha lá, reparei como a Rita e tu estão sempre juntos, muito amigos e tal… - começa a insinuar – Cá para mim vocês gostam um do outro…
- Que absurdo! Somos amigos há séculos! A nossa amizade é totalmente diferente!
- Pois, é exactamente isso que te estou a dizer…
- Oh! Nem vou ligar a essa ideia estúpida!
- Não é uma ideia, é uma constatação… - replica Tiago
- Okay! Nem vou ligar a essa “constatação” estúpida!

“Será que ele tem razão? Será que ela gosta de mim? Mais! Será que eu gosto dela? Será por isso que os meus relacionamentos até agora nunca duram? Porque eu gosto verdadeiramente dela? Não pode ser…conheço-a há tanto tempo, já teria dado por qualquer sentimento diferente…”


Afastam-se Ricardo, Tiago e Rita da escola. Ambos moram juntos uns dos outros mas Tiago é o primeiro a ficar pelo caminho.

- Bem, eu fico aqui. Até amanhã pessoal! – despede-se Tiago.
- Fica bem Tiago. – despede-se Ricardo.
- Adeus Titi! – despede-se à sua maneira; Rita tem uma alcunha para todos.

Instala-se um silêncio de cortar à faca pelo resto do caminho. Ricardo continua a pensar no que o seu amigo lhe disse…

- Então? O gato comeu-te a língua hoje, Ricky? – ri-se Rita.
- Não…apenas não há assunto… - diz Ricardo enquanto finge uma gargalhada ou outra para disfarçar os seus pensamentos.
- Está certo, então. É aqui que fico. Adeus adeus!
- Adeus Rita, adeus.


“…Será que ela reparou no que eu estava a pensar? Às vezes, não sei como, ela lê-me a mente e advinha exactamente no que penso. Tenho de tirar estes pensamentos da minha cabeça senão dou em louco! Não vou deitar ao ar a amizade que tenho com ela apenas porque outros dizem que parece que nos amamos…não!”


Enquanto os dois se afastavam ambos pensavam um no outro…Rita parece ter mesmo um poder sobrenatural, e quase que leu, tal e qual um livro aberto, a mente do Ricardo. Ele continuou com a mesma dúvida por muito e muito tempo. Passou a sua adolescência toda pensando, tentando esclarecer o que sentia, sempre ao lado de Rita. “Deus escreve direito por linhas tortas”, diz o povo e com muita razão, pois estes dois permaneceram sempre nas mesmas turmas, sempre vizinhos; sempre, literalmente, lado a lado. Isto só piorava o estado de Ricardo…a confusão no seu cérebro estendia-se para o seu coração.
Sempre que Rita lhe dizia que precisava de falar com ele, o seu coração batia os 200 km/h, e sentia sempre um frio na barriga, sempre na expectativa que essa conversa lhe dissipasse as dúvidas.


“Cada vez desejo mais que a expressão “idade do armário” passasse do papel para a realidade e que fechassem num armário até ela se esquecer de mim e assim eu também pudesse esquecê-la!
Todo o dia eu penso nela, seja por um lado ou por outro. Estar perto ou longe dela quase que se tornou na mesma coisa porque quando estou com ela, penso nela porque descubro qualidades novas todos os dias; quando estou longe dela não paro de pensar nela e de querer apressar o próximo encontro…Sonho com ela noite sim e na outra também…acho que uma vez até quando estava a fazer uma sesta pensei que teria sido acordado com um beijo dela...
A meio das aulas dou por mim a sussurrar o nome dela entre os meus suspiros…chamo a todos e mais alguns de Rita…Ela pôs-me louco…
E chego agora à conclusão definitiva de que…eu a amo…e este amor não é apenas mais um “amor”; uma paixão que desaparece com tanta facilidade como começa; um desejo unicamente carnal que até deprime…não…o que eu sinto por ela é a personagem principal de milhões de histórias; o que eu sinto por ela está ainda por ser explicado pela ciência; o meu sentimento pela Rita enlouquece sábios, é um vulto na vida real e uma presença bem assente nos contos de fadas! O que eu sinto por ela é amor verdadeiro, do mais puro que possa existir! Mas agora a pergunta que me assombra é: Porque é que tinha de sentir isto logo por ela? No meio de tantas raparigas, porquê ela? Nunca que eu tenho a mínima hipótese com ela! E não digo isto apenas por causa do físico, e que físico; digo isto porque ela merece um príncipe encantado, alguém que a faça flutuar de tanta felicidade…
Será a minha sina vagabundear-me por ela? Terei eu para sempre aprisionado a arrastar-me de amores pela Rita? Pela primeira pessoa que veio falar comigo na primária? Que ficou sempre do meu lado, sempre que eu precisava? Serei eu sortudo por ter encontrado a minha “alma gémea” ou deverão todos ter pena de mim por estar loucamente enamorado por um anjo?
Encontrei uma resposta que apenas me guiou a mais perguntas, cada uma mais tenebrosa que a outra…”


E foi sempre assim…Já há 10 anos…Ambos continuam vizinhos, culpem o destino ou o agente imobiliário, e são colegas de trabalho. Mas algo destoa entre os dois: o Ricardo é solteiro e a Rita casada. Casou-se há um ano com alguém que conheceu há dois. Pois, ele também partilha da vossa opinião: “Mas que apressados!” Ricardo nunca conseguiu exprimir o que sentia por Rita, e continua a fazer o que disse, a “arrastar-se de amores” por ela.
Não lhe permanece totalmente fiel, lá vai tendo namoradas, mas tudo muito supérfluo, nada que se compare minimamente ao amor por Rita.