segunda-feira, 1 de maio de 2006

"Notas Mentais" - Parte II

Capítulo II: Confusão “mentalo-armárica”


- Margarida, queres namorar comigo? – pergunta Ricardo a tremer…
- Sim! Agora sei que é um sim! – responde confiante Margarida.

“Finalmente, depois de três meses da minha primeira ‘tentativa’ ela diz-me que ‘sim!”

Margarida e Ricardo conheceram-se no 5º ano, na mesma turma, e desde do início que sempre foram excelentes amigos um para o outro, autênticos confidentes! Um dia, no início deste 7º ano, o Ricardo, envergonhado como ele é, entregou uma carta à Margarida que dizia: “Sabes, dou-me por feliz de ser teu amigo. És mesmo daquelas pessoas especiais! Mas eu gostava que fossemos mais do que amigos…queres namorar comigo?”
Ele próprio sabia que era uma cobardice entregar-lhe uma carta em vez de lhe falar na cara, mas o medo da negação foi maior e assim que ele lhe entregou a carta desatou a correr o mais rápido possível, fingindo-se surdo aos “ricardos” que Margarida gritava-lhe e aguardando a sua resposta no dia seguinte.
Mas no dia seguinte veio a palavra fatal, o “não”. E assim foi durante três meses nos quais Ricardo nunca desistiu de Margarida! Até a este dia, este belo dia em que a resposta finalmente mudou.


Passou-se um ano deste namoro, mas não resistiu a mais e acabou.

- Preciso de falar contigo. – murmura Ricardo à sua namorada, num tom pesaroso.
- Está bem, fala. – replicou Margarida. Ela já tinha previsto tal coisa, aquelas palavras não enganam ninguém e o Ricardo já andava diferente há um mês.
- Acho que não devemos continuar…não sei porquê mas já não sinto o que sentia por ti…a paixão acabou e não há amor por detrás dessa paixão que sustente este namoro…
- Não me deixes! – diz Margarida incrédula.

Margarida desata a chorar e abraça-se a Ricardo. Ela aproxima a sua boca da dele tentando roubar-lhe um beijo mas ele vira a cara…

“Desculpa…não sei o que se passa comigo…devo ser estúpido ao fazer-te juras de amor e depois vir com este discurso…não lhe devia ter virado a cara…que insensível!”


- Rita, não sei o que aconteceu comigo…tudo perdeu o sentido naquela relação… - tenta explicar Ricardo, usando Rita como confidente.
- Ás vezes acontece…as pessoas confundem amizade com amor…depois só existe paixão mas a paixão acaba, mais tarde ou mais cedo…a vossa durou um ano. – tenta consolar Ricardo que, apesar de ter sido ele a acabar tudo, se sente muito mal com ele mesmo.
- Acredito que sim…mas fui estúpido ao não prever isto…não lhe devia ter feito juras de amor e muito menos ter sido tão insensível da forma como acabei com ela…
- Acalma-te, dá tempo ao tempo e tu e ela esquecem tudo o que aconteceu neste dia e voltam a ser amigos – com esta frase, Rita consegue acalmar Ricardo que descansa a sua cabeça no colo dela.

“Não sei porquê, mas aqui sinto-me muito bem…com ela sinto-me muito bem. Nós pensamos de forma igual…que estranho…Ela sabe sempre o que dizer para me fazer sentir melhor. É tão carinhosa comigo.”


E assim aconteceu, passados poucos dias a amizade de Margarida e Ricardo superou qualquer mágoa, rancor ou culpa restantes daquele dia chuvoso, e agora, no 9º ano, continuam na mesma turma e muito amigos! Rita também continua com Ricardo na turma, sempre a apoiá-lo, sempre a ampará-lo.

- Hey Ricardo! – chama o Tiago.
- Então meu! Diz… - responde Ricardo
- Olha lá, reparei como a Rita e tu estão sempre juntos, muito amigos e tal… - começa a insinuar – Cá para mim vocês gostam um do outro…
- Que absurdo! Somos amigos há séculos! A nossa amizade é totalmente diferente!
- Pois, é exactamente isso que te estou a dizer…
- Oh! Nem vou ligar a essa ideia estúpida!
- Não é uma ideia, é uma constatação… - replica Tiago
- Okay! Nem vou ligar a essa “constatação” estúpida!

“Será que ele tem razão? Será que ela gosta de mim? Mais! Será que eu gosto dela? Será por isso que os meus relacionamentos até agora nunca duram? Porque eu gosto verdadeiramente dela? Não pode ser…conheço-a há tanto tempo, já teria dado por qualquer sentimento diferente…”


Afastam-se Ricardo, Tiago e Rita da escola. Ambos moram juntos uns dos outros mas Tiago é o primeiro a ficar pelo caminho.

- Bem, eu fico aqui. Até amanhã pessoal! – despede-se Tiago.
- Fica bem Tiago. – despede-se Ricardo.
- Adeus Titi! – despede-se à sua maneira; Rita tem uma alcunha para todos.

Instala-se um silêncio de cortar à faca pelo resto do caminho. Ricardo continua a pensar no que o seu amigo lhe disse…

- Então? O gato comeu-te a língua hoje, Ricky? – ri-se Rita.
- Não…apenas não há assunto… - diz Ricardo enquanto finge uma gargalhada ou outra para disfarçar os seus pensamentos.
- Está certo, então. É aqui que fico. Adeus adeus!
- Adeus Rita, adeus.


“…Será que ela reparou no que eu estava a pensar? Às vezes, não sei como, ela lê-me a mente e advinha exactamente no que penso. Tenho de tirar estes pensamentos da minha cabeça senão dou em louco! Não vou deitar ao ar a amizade que tenho com ela apenas porque outros dizem que parece que nos amamos…não!”


Enquanto os dois se afastavam ambos pensavam um no outro…Rita parece ter mesmo um poder sobrenatural, e quase que leu, tal e qual um livro aberto, a mente do Ricardo. Ele continuou com a mesma dúvida por muito e muito tempo. Passou a sua adolescência toda pensando, tentando esclarecer o que sentia, sempre ao lado de Rita. “Deus escreve direito por linhas tortas”, diz o povo e com muita razão, pois estes dois permaneceram sempre nas mesmas turmas, sempre vizinhos; sempre, literalmente, lado a lado. Isto só piorava o estado de Ricardo…a confusão no seu cérebro estendia-se para o seu coração.
Sempre que Rita lhe dizia que precisava de falar com ele, o seu coração batia os 200 km/h, e sentia sempre um frio na barriga, sempre na expectativa que essa conversa lhe dissipasse as dúvidas.


“Cada vez desejo mais que a expressão “idade do armário” passasse do papel para a realidade e que fechassem num armário até ela se esquecer de mim e assim eu também pudesse esquecê-la!
Todo o dia eu penso nela, seja por um lado ou por outro. Estar perto ou longe dela quase que se tornou na mesma coisa porque quando estou com ela, penso nela porque descubro qualidades novas todos os dias; quando estou longe dela não paro de pensar nela e de querer apressar o próximo encontro…Sonho com ela noite sim e na outra também…acho que uma vez até quando estava a fazer uma sesta pensei que teria sido acordado com um beijo dela...
A meio das aulas dou por mim a sussurrar o nome dela entre os meus suspiros…chamo a todos e mais alguns de Rita…Ela pôs-me louco…
E chego agora à conclusão definitiva de que…eu a amo…e este amor não é apenas mais um “amor”; uma paixão que desaparece com tanta facilidade como começa; um desejo unicamente carnal que até deprime…não…o que eu sinto por ela é a personagem principal de milhões de histórias; o que eu sinto por ela está ainda por ser explicado pela ciência; o meu sentimento pela Rita enlouquece sábios, é um vulto na vida real e uma presença bem assente nos contos de fadas! O que eu sinto por ela é amor verdadeiro, do mais puro que possa existir! Mas agora a pergunta que me assombra é: Porque é que tinha de sentir isto logo por ela? No meio de tantas raparigas, porquê ela? Nunca que eu tenho a mínima hipótese com ela! E não digo isto apenas por causa do físico, e que físico; digo isto porque ela merece um príncipe encantado, alguém que a faça flutuar de tanta felicidade…
Será a minha sina vagabundear-me por ela? Terei eu para sempre aprisionado a arrastar-me de amores pela Rita? Pela primeira pessoa que veio falar comigo na primária? Que ficou sempre do meu lado, sempre que eu precisava? Serei eu sortudo por ter encontrado a minha “alma gémea” ou deverão todos ter pena de mim por estar loucamente enamorado por um anjo?
Encontrei uma resposta que apenas me guiou a mais perguntas, cada uma mais tenebrosa que a outra…”


E foi sempre assim…Já há 10 anos…Ambos continuam vizinhos, culpem o destino ou o agente imobiliário, e são colegas de trabalho. Mas algo destoa entre os dois: o Ricardo é solteiro e a Rita casada. Casou-se há um ano com alguém que conheceu há dois. Pois, ele também partilha da vossa opinião: “Mas que apressados!” Ricardo nunca conseguiu exprimir o que sentia por Rita, e continua a fazer o que disse, a “arrastar-se de amores” por ela.
Não lhe permanece totalmente fiel, lá vai tendo namoradas, mas tudo muito supérfluo, nada que se compare minimamente ao amor por Rita.

3 comentários:

  1. simplesmente "fabulástico"!!! lol (tinha que arranjar uma nova palavra para por aqui =P)
    a sério, está mesmo muito bom! continua! ;)

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  2. é so para deixar claro á malta e tal que oprazerdainsolencia tá vivo se bem que com alguma comixão no mindinho do pé esquerdo... mas pronto tá vivo... sem mais assunto, ora entao um grande bem haja

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  3. Tás feito um casanova, pá..
    Abraço

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