sábado, 24 de abril de 2010

Lembras-te...?

Estávamos já naquele final de festa de aniversário da nossa amiga, passava da meia-noite, provavelmente, num dos feriados de Dezembro. Uma atitude algo rebelde da minha parte, sendo que no dia seguinte ia ter os meus conhecimentos testados numa área que dá sempre muito que pensar, até porque é esse mesmo o seu objectivo.
Encarregara-me, durante a tarde que nos conduziu ao momento presente, de animar ligeiramente a festa com os meus passos de dança freestyle, porque, não sei se chegaste a reparar, não sou grande profissional nas danças de passos pré-estabelecidos. Prefiro andar ali a rebolar - ou quase, vá - no chão, a ficar sentado a olhar para as outras pessoas, carregando um ar miserável nos meus olhos encovados, ou então a ficar de pé, abanando a mão livre e tendo cuidado com a outra que segura o copo de plástico com tinto.
Mas depois de tanto cansaço em cima de mim, com alguma vontade de ir embora e com a sensação de não ter lido grande coisa para o exame ao pensamento, acabei por ficar, renunciando a tudo. As horas haviam avançado, já não havia espaço para fazer barulho que se ouvisse lá fora, mais de metade dos convidados haviam já partido para as suas casas. Ficámos só nós e mais uns quatro, talvez. A disponibilidade para música de Caraíbas, pimbalhada ou raps toscos era nula. Todos os que tinham ficado estavam numa de música suave, aquela que faz mexer o corpo em pequenos gestos, quase imperceptíveis, inconscientemente. Música propícia a agarrar alguém. Eu agarrei-te a ti. Isto era ainda mais perfeito do que a valsa e os seus três passos. Bastou-me apenas encostar-te contra mim, deixar que a tua cabeça repousasse no meu ombro, o movimento natural fez o resto.
Mil e uma coisas viajaram em mim nesse momento. Esquecera-me por completo do amanhã, esquecera-me do que quer que tinha para fazer ou de fazer, porque a partir da altura em que nos tocámos, tudo ficou diferente, tudo entrou em harmonia, o mundo começou a fazer sentido. Tudo faz sempre sentido em momentos como este, aquela dose de romantismo, por pouco que dure, torna os nossos olhos sempre muito mais brilhantes.