quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

- Espaço.

Sê-me.
Eu já estive ligado a muita gente... às vezes de forma inútil e fugaz, algumas intensamente, mas na sua totalidade, de uma forma terminal.
Sê-me.
Estou farto de passar pelas mesmas fases: depois do interesse despertado e da pura caçada, vem a euforia, de seguida a anomia/abulia, mais tarde o repúdio, o desdém. No fim, o ódio momentâneo, no mínimo a raiva dura e escaldante, de quem solta impropérios a quem já lançou cânticos de exaltação!

Quero os espaços preenchidos! Muito me tenho gabado do bem que a solidão me faz. Lá dizia eu, a quem me perguntava: "Estou bem, vivo-me muito mais!" Hipocrisia é uma palavra muito forte, mas eu sempre disse isso antes de fechar os olhos para não ver a verdade a fitar-me, especada, à espera que eu lhe retribuisse o olhar e acordasse.
Sê-me.
Anseio por algo completo, total, cheio, uno, perfeito, utópico... sei lá o que quero eu, o que sei é que quero! E na vontade jaz a obra, na vontade sonha o espírito, na vontade morre a passividade, na vontade nasce o herói! E eu quero nascer! Herói, vilão, quero nascer novamente! Não quero renascer, não isso não!
Sê-me.
Porque já renasci uma mão cheia de vezes, e nunca acordei para nada (nem ninguém) melhor! Talvez eu fosse completando uns espaços aqui e ali, no meio do meu ego inchado. Mas algo melhor? Não!

Por isso não quero renascer, quero nascer outra vez! Desejo, com ameaça de birra infantil, acordar...estender a minha mão nos lençóis, buscando-te (como faço todas as manhãs) e, por fim... Encontrar-te, na tua pura imagem feminina, esbelta, esguia, torneada e esculpida pelas mãos mais sábias e euroditas.
Portanto, Sê-me!
Entra em mim, invade o meu corpo, deixa-me integrar-me no teu, tomá-lo como meu, e tomai-o como teu, porque dele já nada quero. Do meu, que há muito já foi ultrapassado pelo ideal do teu. Do teu, o perfeito, que tanto anseio e pelo qual tanto espero.
E espero.
Sê-me, sendo tudo, sente-me, sentindo tudo.
É utópico, dirás tu, da tua alta e lúcida torre. E razão terás.
Mas na minha cabeça... Mais... Na minha alma, nada há, nada morre, nada nasce, senão o que tu ditas.
Por favor, Sê-me e dita o nosso Fado.