sábado, 23 de junho de 2007

À Procura da Perdição Total, Ou...

Desamparado... Sinto-me perdido no meio de uma multidão imensa, repleta de pessoas com as suas vidas, os seus problemas, as suas catástrofes, as suas alegrias, os seus sonhos... 6 biliões de pessoas que se acotovelam neste ciclo cruel a que chamamos vida...a este ciclo irónico e fantástico que nós já damos por garantido.
A vida toda ela é mágica, é mística mesmo. Talvez seja por isso que eu não me atormento muito com as grandes perguntas sobre a vida... Até porque as explicações científicas são tacanhas demais...não me satisfazem... Não consigo acreditar que todo este ciclo tenha sido iniciado com um bang...e todo o resto seja apenas uma série de eventos que se sucederam, uns causa dos outros...e assim sucessivamente. É simples demais (não querendo estupidificar os cientistas), sem sentimentos adicionados à mistela...sem essas perturbações neste ciclo científico tão perfeito...sem eles tudo seria tão simples, racional e exacto. Quase matemático...
Se calhar é por isso que nunca gostei da matemática. Não gosto de o admitir, mas acho que sou um romântico sem salvação. Digo que não gosto de o admitir porque tenho pavor de cair no romantismo pateta: uma serenata desafinada, a uma donzela que se inclina de uma varanda, e o galã, vestido a rigor, de flores em punho, faz pela sua vida, faz pelo seu amor.
Mas dêem-me uma serenata cliché como essa, dêem-me aquele momento que antecede o primeiro beijo, aquele centímetro que separa os lábios de dois apaixonados que, pela primeira vez, estão prestes a contemplar a total felicidade, toda compartimentada num minuto ínfimo. Esse momento de perfeita harmonia entre dois seres humanos diferentes, ambos aquecidos pelo mesmo sentimento. E que sentimento...
É essa a causa da maioria do sofrimento humano...e é essa a ironia máxima da vida: pois não só causa o sofrimento, como o abafa numa rejubilação completa! Essa coisa a que chamamos amor, que ninguém conseguiu explicar ou definir concrectamente, nem um dicionário:
"do Lat. amore

s. m.,
viva afeição que nos impele para o objecto dos nossos desejos;
inclinação da alma e do coração;
objecto da nossa afeição;
paixão;
afecto;
inclinação exclusiva;

ant.,
graça, mercê.
com -: com muito gosto, com zelo;
fazer -: ter relações sexuais;

loc. prep.,
por - de: por causa de;
por - de Deus: por caridade;
ter - à pele: ser prudente, não arriscar a vida;
- captativo:vd. amor possessivo;
- conjugal: amor pelo qual as pessoas se unem pelas leis do matrimónio;
- oblativo: amor dedicado a outrem;
- platónico: intensa afeição que não inclui sentimentos carnais;
- possessivo: amor que leva a subjugar e monopolizar a pessoa que se ama; o m. q. amor captativo."

No entanto, e agora a ironia final apresenta-se ao fiel leitor da vida, ao fiel espectador deste drama cinematográfico em tempo real... No entanto, todos nós, sem qualquer excepção, nalguma altura da nossa vida, acabamos, eventualmente, por procurar este sentimento noutra pessoa. Mesmo sem o compreender, mesmo temendo-o por vezes, todo o ser humano, mais tarde ou mais cedo, quer se sentir impelido para o objecto dos seus desejos, anseia por essa inclinação da alma e do coração... Seja platónico ou puramente carnal, o ser humano, mesmo estando totalmente às escuras, lá vai palpeando o caminho por entre obstáculos ocultos até encontrar, depois de dar muitos trambolhões, a pessoa que se destaca numa multidão. Aquela uma pessoa que ilumina o ambiente duma sala. Aquele único ser vivo, que para o resto da maralha não passa de outro, mas para nós é aquele...E todos os outros passam para segundo plano. É aquele, ou aquela, que realmente interessam. E quando nos apercebemos que não podemos tocar na pele dela, acariciar cada curva da sua figura; quando a realidade nos prega uma valente estalada com a noção de não podermos passar horas e horas a falar sobre coisas pequeníssimas, só no intuito de ouvirmos a voz dela... Quando tal acontece mergulhamos num estado de total desespero. E mesmo nesse estado, há aquela luz dentro de nós, pois sabemos finalmente do que se trata, esta coisa do amor...
Portanto...todo o ser humano procura e deseja a sua perdição total, ou a perfeita inteireza da felicidade.

quinta-feira, 7 de junho de 2007

Algemado

Sinto-me como um toxicodependente. Sinto-me como um recluso. Sinto-me como um alcoólico. Sinto-me como um fumador. Sinto-me algemado.
Estou algemado. Penso que sou livre. Não sou. A liberdade é o ideal que mais prezo. Não me é nada mais do que uma utopia.
Tenho o coração a ferver. Ferve positivamente, mas também ferve negativamente. Sinto lágrimas de sangue a escorrer-me rosto abaixo. Sangue queimado, proveniente de defesas frágeis.
Sou fraco. Não tenho força física. Não tenho força emocional. Quero fugir!
Não posso. Não, ainda não. Mas quero. Só me abandono em sonhos. Aí, sinto-me etéreo. Na realidade, não sou.
A realidade torna-se um pesadelo. Não consigo escapar. Não consigo respirar.
Não respondo às minhas questões, não expresso a minha vontade, não posso deixar de admitir "coisas", não posso ripostar, não posso ser eu.
Pintam-me. Borram a pintura. Sinto-me picado, provocado. Não sou um borrão. Sou uma tela branca, salpicada de trevas.
Se sou salpicado, a minha tela torna-se vermelha.
Sinto-me irado. Sinto-me enervado. Sinto-me irritado. Sinto-me desaconchegado. Sinto-me bruto. Sinto-me estúpido. Sou de novo algemado. Sou de novo consumido... constantemente, frequentemente, ordinariamente... Sinto-me extraordinário, sem extra.
Não sei o que fazer. Desabafo, mas escondo. Solto "desabafos mudos". Oprimo, reprimo, censuro, retenho, contenho, detenho... -me.
Quero sair daqui. Quero partir. Não quero ir só. Mas quero deixar todos os outros. Sou mal-agradecido. No futuro, verei. Arrepender-me-ei... Será?! Não.
Estou algemado. Penso que sou livre. Não sou. A liberdade é o ideal que mais prezo. Não me é nada mais do que uma utopia.