quarta-feira, 20 de setembro de 2006

Esperança Média De Vida = 25 Anos

Relato-vos a minha história a partir de um dos meus sítios favoritos da minha casa: um canto obscuro do meu quarto, que se trata de uma espécie de anexo ao nosso barracão. Para convencer o vizinho a ceder-nos um pouco de espaço foi o cargo dos diabos! Teve de ser a minha mãe a convencê-lo...numa noite foi ter com ele...e quando voltou, já de madrugada, ouvia a chorar na cama...
Vivo com a minha mãe, com o meu avô e com o meu padrasto...O meu pai, esse nunca o conheci. A minha mãe diz-me que morreu quando eu tinha menos de 1 ano...mas cá para mim, ele não quis saber e fugiu! Ele não gosta de mim! Já a minha mãe não, ela gosta muito de mim! Diz-mo todos os dias, tirando quando bebe demasiado...coisa que se está a tornar numa constante! Mas o meu avô diz que ela há-de parar de beber, um dia destes...quer dizer...não diz...ele já não fala há um bom tempo, mas quando lhe pergunto "A mãe vai ficar bem não vai?", ele acena sempre a cabeça, enquanto continua a olhar fixamente para o vazio...E sempre ouvi dizer que os mais velhos têm sempre razão!
Eu vivo num desses sítios a que as pessoas chamam de "guetos"...moro num bairro social...construído com lata, chapa e madeira podre...O meu nome não interessa...tratem-me por "Fininho"...Toda a gente me trata assim porque sou muito magro e franzino.
Desengane-se quem pensa que não tenho amigos! Tenho sim...não os posso chamar de "bons amigos", mas são os amigos que Deus me deu, e por isso sou muito grato a eles.
Mas eu tinha três bons amigos! Formávamos um grupo e pêras! Metíamo-nos em tantas aventuras, assim como em sarilhos! Mas encobríamo-nos sempre uns aos outros, e se um fosse apanhado, os outros três confessavam a cumplicidade não existente! Que amigos que eles eram...nunca mais me vou esquecer daquela vez em que estava a passar por uma pastelaria e vi na montra uns bolos com um aspecto divinal! Até comentei com eles de que nunca comeria um bolo daqueles...e foi então que o Chico fez-nos entrar lá e, enquanto ele distraia os empregados com questões da vida como "Onde posso comprar um preservativo? Que tamanhos e sabores é que há?", e coisas do género; o Anderson fazia malabarismos com uma bola feita de meias, e eu e o Pitosga (que tinha essa alcunha porque era cego de um olho) fomos roubar os bolos! Lembro-me que nunca comi tão bem como nessa tarde!
Mas...infelizmente, numa tarde chuvosa foram os três mortos a tiro, enquanto tentavam ganhar uns trocos...Estavam a vender droga aqui no bairro e a polícia decidiu fazer uma rusga nesse mesmo dia...e o Chico, que tinha uma arma, começou a disparar nos polícias e eles ripostaram...mas com melhor pontaria...Mas pelo menos eles conseguiram o sonho deles: morrerem juntos...eu também partilhava esse desejo...mas, infelizmente, estava com febre nesse dia e a minha mãe trancou-me a porta do quarto com uma cadeira encostada à mesma, para eu não ir para a rua!
Por mais incrível que me tenha parecido, nesse dia não chorei...apenas sentei-me ao lado do meu avô...enquanto o acompanhava a olhar para o "nada"...a olhar para a minha vida e a pensar que, se calhar, teria sido melhor eu ter morrido com eles! Sempre ouvi dizer que as crianças não vão para o inferno...e eu, com 11 anos, ainda sou uma criança (como insiste a minha mãe); e não me pareça que em adulto consiga ir para o Céu...
Não é que eu queira ser traficante...mas que outras hipóteses me restam? Que mais posso eu fazer, apenas com o 4º ano e com toda esta "sabedoria de rua"? Quem mais posso eu ser, senão um marginalzinho qualquer?
Olho para o meu avô e penso para mim mesmo que eu sou mais sortudo do que ele...apenas pelo simples facto de que é muito difícil chegar à idade dele, para mim...de certeza que serei morto a tiro, ou morrerei de uma outra forma qualquer muito mais cedo!
O mais irónico é que não me preocupo com isso...já me esqueci da primeira vez que me apontaram uma arma à cara...e, durante a noite, já há muito tempo que não acordo ao ouvir disparos...apenas penso para mim mesmo: "Mais uma pobre alma, um pobre 'Zé-Ninguém' que acaba de partir desta realidade cruel...Quando terei eu a sorte dele?"


(Texto fictício)

sexta-feira, 15 de setembro de 2006

O Texto

Já me pediram, umas quantas vezes; num acto um pouco comodista e preguiçoso; que eu descreve-se a minha escrita...a minha resposta é, com certeza, a que vocês acabaram de pensar: "Aqui tens o link, vai ler!"
Mas tanto que me pediram que agora apetece-me descrever a forma como um dia gostaria de escrever um texto!
Tinha de começar com muitas reticências...com um ritmo muito calmo...como uma brisa na Primavera enquanto estamos deitados no meio de um prado verdejante...tudo muito parado...com muitas descrições visuais...para que o leitor pudesse visualizar tudo...muito...calmamente!
Provavelmente este começo daria-se com o acordar da personagem em questão...eu descreveria o acordar...o bocejar, o levantar e todos os outros movimentos já mecanizados no dia-a-dia.
Daria o valor devido ao sol radiante que a personagem deslumbrava fora da janela...ao céu enorme e imensamente azul e ao canto dos poucos pássaros que por ali andariam a vaguear, por entre beijos primaveris e árvores milenares.
Mas o humor da personagem não seria do melhor! Ela, ou ele, estaria zangada com alguma coisa...algo que se passava na sua vida e da qual ela não gostava. Ela odiava o rumo que a vida dela estaria a levar. Provavelmente teria algo haver com a teimosa rotina que não quereria ceder nalguns pontos!
E depois o ritmo da leitura começaria a aumentar, as reticências davam lugar às vírgulas. A personagem cada vez mais iria usar comparações "negras", quais trevas que quereriam dominar o texto. A cada frase que passava, mais e mais se podia notar que a personagem em causa já chegava ao ponto de gritar!
As vírgulas agora dariam lugar à ausência das mesmas e a personagem apenas gritaria sem qualquer interrupção ou cuido pelas regras de construção de frases! Cada vez mais os pontos de exclamação dominariam o tom de voz e o leitor já começaria a franzir as sobrancelhas pensando que algo de muito mal se passava com a personagem!
Os dentes dela já rangiam e nada estava no seu sítio pois ela tinha revirado tudo do avesso! Vidros partidos, papéis no chão, e o total caos urbano agora dominavam o cenário!
Tudo apenas iria piorar a cada mórbida palavra que passava imensamente rápido, como se tivesse medo de perder o barco para o purgatório! Os meus dedos já escreveriam com tanta força que encravariam algumas teclas! Quem me visse a escrever, neste momento, pensaria que eu não passaria mais do que um louco, doido enrraivecido, e quem lesse já consideraria em fechar a página! Tudo apenas piorava e piorava até atingir o autêntico clímax do texto!!...e aí tudo voltava a acalmar...
Tinha-se dado uma autêntica inspiração, seguida, neste momento, de uma expiração muito calma e demorada. Tratava-se exactamente do dobro da inspiração.
Agora a personagem daria-se conta de que o que se passa não é assim tão mau...e existe uma solução para tudo...basta usar a cabeça...com calma...e ter esperança!
Agora, o texto pareceria mais normal ao leitor, havendo vírgulas devidamente colocadas e a pontuação que existisse apenas exprimiria positivismo. Tudo estava calmo e, novamente, os pássaros cantavam no lado de fora deta bonança imensa!
E no fim apenas haveria lugar para uma breve conclusão...onde as reticências tudo dissessem...sem nada dizerem...

sexta-feira, 8 de setembro de 2006

Eu, Em 6 Pontos

Peço desculpa pela falta de textos, mas foi-me difícil ultrapassar o último. Pode-se dizer que, pela primeira vez, encontrei um obstáculo mental, um bloqueio até, que quase me impediu de continuar a escrever aqui. Até pensei em mudar de blog!
Mas, como prometi a alguém que nunca abandonaria este cantinho, vou voltar a escrever agora, graças à minha querida tia que me desafiou a falar sobre mim em 6 "items", e com isso deu-me tema!

1 - Sou perfeccionista para comigo mesmo, e isto aplica-se a tudo o que eu faço; seja teatro, escrita, desporto ou outra coisa qualquer que eu produza, raramente chego a gostar e repito a mesma coisa dezenas de vezes até sair, mais ou menos, como quero. De todos os textos que já escrevi apenas gostei de três, só para vocês terem uma ideia! E, adjacente a esta minha elevada "auto-exigência", quando trabalho com outras pessoas também exijo o melhor delas. Porque não vale a pena fazermos algo sem darmos tudo de nós...se apenas nos esforçarmos a metade da nossa capacidade nunca que sairá nada de jeito! Por isso, compreendo que às vezes colegas de trabalho meus se stressem comigo um pouco, mas é esta a minha filosofia de vida!

2 - Estou sempre bem e a sorrir, aconteça o que acontecer! Percebo que "vida só há uma"; então para quê passarmos por ela com as sobrancelhas franzidas? Prefiro vivê-la de sorriso na boca! Além disso são precisos mais músculos para franzir as sobrancelhas do que para sorrir! E uma boa gargalhada é um óptimo exercício já que nos exercita não só os músculos da cara, eliminando rugas na testa, como ao rirmos a bom rir é como se fizéssemos uns 10 abdominais!

3 - Sou fascinado pelos fenómenos da sociedade, como política, religião, racismo e, principalmente, as atitudes da adolescência! Talvez porque esteja a passar pela mesma. Mas adoro observar isto tudo e para o fazer prefiro fazê-lo dum ângulo "de fora", ou seja, não sou religioso, não tenho partido e, obviamente (já que possuo inteligência), não sou racista! Apenas gosto de observar estas atitudes e tentar compreendê-las de todos os pontos de vista possíveis e criar uma opinião sobre tudo. (pancas...)

4 - Adoro debates! Adoro discussão de ideias e de opiniões! Na escola, quando os fazemos, eu, literalmente, nunca me calo e, entusiasmo-me tanto, que quando a 'stora' decide continuar para o próximo tema ainda estou eu a ter uma epifânia sobre o tema anterior!

5 - Defendo os meus amigos com unhas e dentes! A amizade para mim é tão importante na minha vida como água, e sem eles eu não sei onde estaria agora. Felizmente, tenho imensos bons amigos. Mesmo bons, em quem posso confiar de olhos fechados e de coração aberto. Amigos com os quais já partilhei experiências de vida que nunca esquecerei, e amigos tão importantes para mim que falarei deles aos meus filhos e aos meus netos!

6 - Neste último ponto surgiram-me dezenas de ideias que me imploraram para que eu as pusesse aqui...Mas vou pôr a forma como eu me entendo a mim mesmo:

Entendo-me como uma pessoa um pouco confusa...que exige tanto de si próprio que às vezes torna-se estupidificante, tanta procura pela perfeição, já que ela não existe neste mundo por onde vagueamos!
Entendo-me como uma pessoa apaixonada pela vida, de uma forma intensa, e por isso quero aproveitá-la ao segundo!
Entendo-me como alguém que sabe o que quer, e que valoriza o que já tem mas ainda busca o que quer ter! E essa busca é feita com toda a intensidade que lhe consigo empregar, já que fujo daquilo a que chamo "vidinha"! Tento a todos os custos escapar dessa ideia errada que se pode viver sem arriscar em nada! Isso não é viver, isso é "existir"!
Entendo-me como uma pessoa educada, e sobretudo observadora! Consigo perceber imensas coisas sobre a personalidade de alguém pelo seu olhar; olhando essa pessoa directamente nos olhos, consigo perceber bastantes coisas!
E por fim entendo-me como alguém que é como é, bom ou mau, graças à família! Por isso dou o valor que dou à minha! Se não fosse por ela eu seria de uma forma diferente e , muito sinceramente, gosto da forma como sou e se me perguntarem se eu mudaria algo em mim eu responderei que não, não por vaidade, mas apenas porque...habituei-me aos meus defeitos e aprecio as qualidades que, felizmente possuo!

Bónus:

7 - Odeio falar de mim mesmo!


E agora está na altura de fazer vítimas! Os meus reféns serão: Tiago (a.k.a James, a.k.a Cláudio Pergaminho) do http://umseradois.blogspot.com/; Afonsinetes, do http://pisaropalco.blogs.sapo.pt/ e http://otherplaceofmind.blogs.sapo.pt/ e Catarina do http://acredite-comigo.blogspot.com/. Se quiserem enviem por mail para o ricky_ricardo_f@hotmail.com