quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Autopsicanálise

Tenho idade suficiente para saber que não tenho a idade suficiente para começar com esta frase: "Tenho a idade suficiente para saber..."
Porque eu tenho é a idade para não saber, não me saber, inclusivé!
E faço juz à adolescência, não sabendo. Não sabendo porque estou aqui, para que fui feito, se há ou não há um sentido na... Essas perguntas todas que enlouquecem uns e entediam outros.
Mas tenho vindo a crescer. O processo, em mim, tem-se revelado de acordo com a regra: Concepção, parto, começar a respirar, abrir os olhos, reconhecer os progenitores, começar a andar, a falar, estabelecer as primeiras relações com pessoas fora do círculo familiar, ir para a escola, começar o processo de aprendizagem, errar...em todos os campos da vida... estar à beira do colapso, sofrer, voltar a sofrer, desistir... E desistir de desistir, porque desistir é difícil, amar o passado, chocar com a vida, estagnar... Crescer.
Até chegar a agora. O momento em que analisei um dos meus medos de uma forma tão imparcial e objectiva, que parecia um comentário sobre um outro alguém.
Medo de chegar ao ponto em que a evolução pára. Chegar a um beco, a uma situação em que o melhor dos melhores foi atingido, e perceber que para trás é pior e não existe para a frente...
Esta epifania chegou até mim através do seguinte raciocínio: Inscrevi-me num concurso de escrita, perfeitamente banal e leviano, uma atitude reveladora de insegurança e narcisismo. E desde então (desde o ano passado) eu sinto falta da escrita, ou seja, desde então que não dançamos, ela e eu.
Então qual é a explicação para o facto de eu, de um momento para o outro, cessar de escrever (tirando um ou outro eclipse de inspiração)? Medo... A explicação é o medo que eu sinto, talvez inconscientemente... O medo que sinto, mesmo não o querendo admitir... De não poder melhorar mais. E, se calhar, não escrevo aguardando o resultado do tal concurso entediante... Na espectativa de o perder... Uma vez que ganhá-lo seria fazer-me ver que já sou o melhor que posso ser.
Perfeito não, nunca perfeito! Que nojo de termo, livra de eu alguma vez ser perfeito!
Mas ser o melhor que eu consigo. Aperceber-me do limite das minhas capacidades, neste caso, mentais ou artísticas ou literárias ou egocêntricas, como as quiserem rotular.
E por isso, aguardo tranquilo e inerte pela notícia da minha vergonhosa derrota, visto que falhar por completo... Fracassar redondamente faria-me sentir triste e frustrado, talvez com vontade de desistir, rogando pragas a esta minha amante! Mas levaria-me à conclusão que eu ainda tenho muito que progredir, muito que trabalhar, para um dia, ganhar o tal concursozinho.

A vida faz-nos perceber coisas de formas tão estranhas...

E assim percebo que aplico este medo a esta minha faceta, e a todas as outras... Tenho medo de chegar a um momento que me faça sentir perto da perfeição... A minha reacção será sempre afastar-me dele, com medo de alcançar o máximo, cedo, e passar o resto da minha vida nesse máximo... Durante tanto tempo (e mesmo um dia com esse máximo estável é tempo demais)... e durante tanto tempo que esse máximo se torne num maximozinho... e num mais-ou-menos... e num bonzito... e num medíocre...
Até que morro nesse estado de desgraça, sem honra ou orgulho na vida que levei... Sem um óbulo para entregar ao barqueiro, sabendo assim que me aguarda o vaguear incessante...
Desespero(éro).