quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Ode à Fraternidade

Amigos, pegai ora em vossas taças,
É chegada a hora de celebrar;
Batei umas nas outras em crescendo,
Para que esta sinfonia as devassas
Querelas oculte em diminuendo.
Largai armas, sobreponde dif'renças,
E a um dar de mãos dai o lugar.
O ódio que em vossas veias correu
Poluiu o frágil meio-ambiente
Que rui insuflado de desavenças
Espirituais, manchando de sangue o céu.
Respirai as notas da harmonia
Que a Lua oferece em respeito ao Sol!
É, pois, com dignidade e cortesia
Que vivereis em pleno vossas vidas,
Sob a égide da fraternidade.
Ah!, não deixeis vosso espírito mole!
Cantai em uníssono «igualdade»!
Sejamos irmãos e irmãs queridas.
Deixai vossa crença em dogma diverso
Não aludir a violência incutida
Por uma vã força superior
Sobre a qual a discórdia é a rainha.
Crede na potestade do universo,
Religião humana e ult'rior.
A pena que agora dança em mão minha
Desenha os traços de uma melodia
Que é comum a todos os animais.
Segui o conselho da noite e dia
E evitai do Inferno o arrais,
P'ra que não chegueis em demora ou pressa
Ao falso virtuoso e negro cais.
Amigos, enlaçai as vossas mãos,
Transmiti do círculo a energia,
Preparai-vos p'ra tocar esta peça.
Vá, dai à Natureza a primazia,
Cuidai de vossos corações, são sãos.
E ponde de lado o interpretar,
Deixai vossos oculares bem quedos,
Não tenteis fazer de vós tribunal.
A outros permiti o julgamento.
Não é vossa função mirar, julgar.
Que o façam as 'strelas no firmamento.
Olhai entre vós, de igual p'ra igual.
Trauteai esta ária apaixonante
De vossa cumplicidade eloquente.
Largai vosso desejo comedido
E alargai numa só voz troante
O vosso mesquinho orgulho ferido
De péssimo carácter displicente
Para uma canção universal.
Tendes a beberagem da alegria
Em vossa doce, sã, humilde posse.
Insistir na briga é fraca mania,
É perder sorriso em lugar da tosse.
Para quê ignorar um vero amigo,
Qual a razão do olhar distorcido?
Sois todos vós comigo e eu contigo,
De vãs não são minhas letras seladas.
Agarro-te no salto à confiança;
Quanto a vós, de minha mão não largueis.
Perscrutai as s'mibreves prolongadas,
São provindas do sopro de esperança
De minha garganta grã como seis!
Prom'tei-me só isto, ó companheiros:
Olhareis por mim em dia aflitivo,
Que em troca farei o mesmo por vós.
Gritaremos, sim!, o tom decisivo
Que reconhece em pleno a amizade
Dos que são p'ra sempre juntos, não sós.
Envelheceremos juntos d'idade,
Cansaremos de risos nossa voz.
Até sempre, ó meus «camaradeiros»...
Irmãos de armas, de vida e de sangue,
Canto-o eu não em esprito ligeiro,
Não em funesta superficialidade,
E não como um pérfido zombeteiro,
Mas com honestidade de alma exangue.

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