Mais uma vez, um texto com alguma idade, mas possivelmente dos primeiros que rascunhei no meu bloco de notas Moleskine. Gostei do que escrevi na altura, mas tratou-se igualmente de uma época em que as escritas por aqui estavam já desactivadas. Está bonito e vale a pena recordar.
Pára. Não fales. Ouve, escuta: este livro irrequieto que escrevi, escrevi-o a pensar, não em mim, mas no teu sorriso, quando to desse, para que nunca te esquecesses de mim e de como te amo de uma maneira que nenhum outro poderia conhecer e reproduzir.
Mesmo quando já for pó e fisicamente me encontrar derretido, a minha alma continuará a roçar a mão esquerda sobre a tua direita, para que possas dar lugar a um só teu Sol que te ilumine o caminho e te sugue de novo dos teus pesadelos quente-medo para a fria mas tolerável realidade da qual já não faço parte, senão em sonhos, porque não vivo.
Se a vida é um sono profundo, eu não o saberei dizer, porque não durmo, sou etéreo. Mas este livro que é teu e é para ti fará com que o teu sorriso desabroche de novo, cantando uma vez mais, em conjunto com o jasmim primaveril, a sinfonia das noites de Verão que antecipam o teu nascimento escuro e outonal.
Serei teu até quando me quiseres teu, mesmo naquela vida em que já não somos o que nos designaram para ser, mas sim aquilo que queremos ser.
Faustosamente declaro o meu amor por ti, sem qualquer pudor ou piedade de palavras simples que todos compreendem e que eu quero que permaneçam no escuro, sob pena de se apropriarem daquilo que é de mim para ti e que só para ti escrevi. Sinto-me maestro desta orquestra de pensamentos e de sentimentos cujos músicos tocam cada um para seu lado, não se entendendo na relação que partilham entre si, mas que imaginam ser separada, sem mútuo acordo possível onde a informação do córtex visual se une ao fluido imaterial que o coração bombeia com cada vez mais força a cada novo compasso que toca, e tudo isto só porque olho para ti, na realidade, ou tudo isto só porque sonho contigo, no sono profundo, em que te vejo ainda mais majestosa do que a saudade física me impõe sentir. Desenho-te sem uma única mecha de contornos esbatidos, recuso-me a dar por terminado um esboço onde não estejas completamente delineada e onde a aguarela do amarelo-verão misturada com a do azul-mar não seja bem visível.
Na minha tela sem fim, não me canso de continuamente te acrescentar mais e mais perfeição, como se Deus fosse, ao criar vida assim tão perfeita como a tua e que me deixa a mim vivo, não em decadência, mas em suprema energia carnal e espiritual, com a qual me sinto uno e um só a dois, porque não estás em sonhos, mas sim essencialmente unida a mim.
Este livro que escrevi para ti, guarda-o, não para que o leias, porque as minhas palavras, ó sofrimento poético, não são dignas de ti, mas sim para que possas recordar o ser angelical que em mim existiu e que um dia te raptou do mundo para que o Paraíso ficasses a conhecer tal como ele é para ti, e não para os comuns mortais, porque a tua vida não é mortal, continua a alimentar-me mesmo sendo o fantasma que em teu redor vagueia.
Novembro de 2010.
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