quarta-feira, 6 de dezembro de 2006

Era Uma Vez...

Um grupo de meninos e meninas que tinham uma missão a cumprir.
Combinaram encontrar-se todos num salão de chão preto, paredes e tecto brancos, com algumas luzes sobre as suas cabeças. Ia chegando um a um, todos com uma expressão sorridente no rosto. Alguns vinham mais preparados que outros. Uns traziam malas e mais malas ao ombro, mesmo sendo rapaz ou rapariga... Outros traziam roupas desconfortáveis que dificultariam o que pretendiam fazer. Vinham arranjados, enfim... mas bem demais. Vá lá que as cores eram múltiplas. As calças passavam da ganga azul à verde, as camisolas passavam pelo laranja e pelo azul... As tais malas eram também ou castanhas ou azul-noite, entre outras.
Começava a ficar tarde e ainda não tinham chegado todos, pelo que se discutiam várias probabilidades daquilo que iriam fazer.
- Onde é que achas que vamos, "palhacito"? - perguntou uma menina loira de olhos azuis, qual boneca. Devia ser das mais novas, entre os outros.
- Não sei... - respondeu um rapaz muito mais alto que ela, sem pensar muito no assunto. Quase que se podia disfarçar de chão, tendo em conta as cores do seu traje habitual: t-shirt preta e calças de ganga escuras. - Pode ser que de tanto andarmos por aí, nos percamos! E depois, o que a gente faz é tentar sair desse lugar obscuro, cheio de lobisomens e afins, olhando sempre para trás para ver se não nos comem. Percebeu? - concluiu, gozando com a pequena.
- Oh, cale-se! Sabe lá onde é que vamos parar! - atacou.
- Quem é que tu julgas que és para me falar assim, se nem os dentes todos tens? E mais! Não sabermos onde vamos parar é a piada da coisa! - repeliu.
Estavam ainda a argumentar entre si quando o guia da "excursão" se aproximou, chamando todos para se reunirem à sua volta. Era um rapaz que ostentava as mesmas cores do rapaz alto, que argumentava com a pequena. As diferenças recaíam na idade, já que o guia era mais velho, na envergadura de ombros e na barba. Em altura, estavam próximos.
- Olá a todos - saudou - chamei-vos hoje, aqui, para fazermos uma actividade diferente daquelas que costumamos fazer, que são mais paradas ou... se nos mexemos muito, é sempre no mesmo sítio. Assim, nós vamos partir à descoberta. Mexemo-nos por todo um espaço, que é mais fixe. Vamos fingir que somos exploradores, capazes de percorrer mundos e fundos. Pode ser?!
Todos os jovens ali presentes concordaram. E assim, iniciaram a sua marcha.
Tomaram a estrada de terra batida que levava ao rio. No meio, iriam encontrar uma floresta não muito densa, que deixava passar uma quantidade de raios-de-sol considerável. A estrada não era tão curta quanto isso, nem tão pouco o caminho da floresta. Tiveram a impressão de se perderem pelo menos umas quatro vezes. Entretanto, o sol ia-se pondo. Ouviam sons em todo o lado. Desde aves que levantavam vôo de forma repentina, até ao simples arranhar das folhas dos arbustos umas nas outras. A pequena, que ia de mão dada com o guia, já se mostrava arrepiada.
Foi então que surgiu o primeiro momento de pânico.
- ABELHAS!!! ENXAME, FUJAM!!! - gritou o rapaz que gozava com a pequena loira de olhos de boneca. Se esta também não tivesse medo, era ela que gozava, desta vez.
Uns subiram às árvores, outros só viam pontos amarelos e pretos à frente, aflitos. Esconderam-se dentro dos arbustos. Outros ainda viram o rio mais à frente, e tiveram a coragem de suster a respiração durante muito tempo, abrigados daqueles ferrões ameaçadores.
Durante poucos momentos que lhes pareceram uma eternidade, os jovens sentiram-se entre a espada e a parede, nos seus esconderijos. As abelhas acabaram por se ir embora.
Sentiam-se cansados, sem lugar para onde ir. Acabaram por adormecer nos seus esconderijos.

Amanhecia. Sentiam os primeiros raios-de-sol a raspar-lhes as pálpebras. Foram caminhando até ao rio, atravessando-o com dificuldade. É então que se apercebem que estão a começar a ficar tontos. Tinham fome.
Alguns já nem se aguentavam em pé. Diziam que tinham jejuado para comer as guloseimas que traziam os amigos. O problema é que com a correria tinham perdido tudo. O estômago de cada um resmungava cada vez mais alto.
Depois de caminharem durante um bom bocado por uma clareira, viram algo que não imaginavam, sequer, que alguma vez aparecesse. Era um palácio, um grande e enorme palácio de marfim. Por causa da fome, acharam que era miragem, mas quando tocaram as grandes portas de carvalho da muralha, aperceberam-se de que a sua salvação podia estar para lá dessas portas.
Não sabiam quem é que havia de tentar passar as portas para as abrir do lado de dentro. Lançaram uma corda que tinham guardado para o caso de vir a ser útil, e todos tentaram passar, mas ninguém conseguia escalar. Foi então que uma das crianças descobriu uma pedra solta junto às imponentes portas. Com a ajuda de todos, conseguiram empurrar a pedra.
Já se encontravam no recinto. Aí, não encontravam nada de jeito que lhes pudesse servir de consolo ao estômago. Então, entraram nas entranhas do palácio.
Quando viram uma enorme mesa recheada das mais variadas tentações, correram que nem loucos até à mesa, quando ouviram passos que faziam estremecer tudo e todos.
Um homem grande, vestido de preto, atravessava a sala. Eles todos estavam a espreitar por detrás das armaduras. O homem sentou-se à mesa, e começou a comer. As suas maneiras não eram grande coisa, pensavam os jovens. Um deles tinha de se dirigir ao homem, para que este os pudesse socorrer. Mas a avaliar pela expressão deste, ninguém estava com vontade de se oferecer. Empurravam-se uns aos outros até que um deles caiu e arrebatou com a armadura. O estrondo foi inevitável. Só ele ficou à vista. O homem tinha deixado cair a perna de frango, ou melhor, o seu osso, e lambia os dedos das mãos, olhando fixamente o rapaz. Aproximou-se dele e perguntou:
- QUE É QUE QUERES? - disse, mostrando o seu vozeirão.
- Tenho fome... - disse o rapaz, acabrunhado. - Os meus amigos também...
- QUAIS AMIGOS?! - tornou a perguntar aquele enorme naco de carne.
Um por um, revelavam-se, com medo, por detrás das armaduras.
- MAS QUE VEM A SER ISTO? COMO É QUE TANTA CANALHA ENTRA AQUI SEM EU DAR POR ISSO?!
A pequena mafarrica tinha-se chegado ao pé deste, enquanto ele falava das alturas. Obviamente, não a tinha visto. Puxou-lhe da manga do casaco de pele de urso, com todo o seu peso, para ver se ele reparava. Foi então que olhou.
- QUE É QUE ESTÁS A FAZER?! - dizia, sacudindo-a ferozmente.
- Nós temos fome, senhor... Ontem estávamos a passear todos juntos, quando nos perdemos no bosque... Vieram abelhas atrás de nós, as formigas levaram o lanche que tínhamos e ainda adormecemos cheios de frio, tivemos de andar pelo rio e ter cuidado com os bichos... Por favor, bom senhor... Só pedimos que nos dê uma migalha daquilo que ali tem, para podermos sair daqui e nunca mais o incomodarmos.
A expressão da pequena mais a sua voz de criança inocente, juntamente com as expressões dos outros deixaram o imponente homem de rastos. Numa tentativa de provar que, na verdade, não era assim tão mau e de ajudar os pobres coitados, cedeu-lhes toda a mesa de banquete e ainda mais coisas para que levassem pelo caminho de volta.

Assim terminaram a sua viagem, no mundo da fantasia e da imaginação, o maior mundo que existe e que a todos pertence.

FIM

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