domingo, 21 de fevereiro de 2010

Lumi

De repente, dei por mim a olhar para este nome e a sua origem. Mas já a abordei em tantos outros posts que não faz sentido falar sobre ela uma vez mais.
O que interessa mais será talvez o seu significado na vida de uma pessoa. Quando se anda assim coberto de negrume e queixume e ciúme, eventualmente, apareço aqui como se estivesse a atirar pedrinhas ao rio, coisa que nunca foi muito meu hábito fazer, mas gosto de fitar o rio feito pseudo-Ricardo Reis da sua altura, e não uma visão contemporânea que não deixa, contudo, de ser um belo romance.
Agora que sou uma pessoa encartada e dou desculpas em casa a mim mesmo para me deixar sair e vaguear por esse mundo fora, a ver o ponteiro do combustível a descer suavemente, tomo a liberdade de arranjar umas asas para mim, tal como ansiara possuir antes, e voo, ou rolo, será esse o caso, até ver o fim da estrada lá bem ao fundo, mas nunca em excessos, gosto sempre de andar em relações baixas entre o motor e a caixa de velocidades, como se eu fosse um mecânico muito experiente que sabe falar de carros em todos os aspectos, de forma a poder andar sempre um pouco mais até quase ao limite, não vão as impurezas, palavra esta confundida há anos atrás com empresas por parte de um imbecil, intrometer-se no desempenho da máquina.
São muitas as vezes em que as supostas pedrinhas que atiro ao rio se prendem com um telemóvel. Não, não tenho nenhum daqueles calhamaços que servem para ser atirados, jogados com fins terapêuticos, daqueles primeiros que tinham antenas gigantes. Não tenho particular perfil de destruidor. Se me pusesse a atirar com objectos assim, inofensivos e concretizados com propósitos bem mais úteis à sociedade do que os meus caprichos pessoais, verteria uma pequena lágrima de remorsos. Aquilo a que me refiro é pegar no objecto, carregar na tecla mais à esquerda, mesmo por cima do botão de chamada a efectuar, cuja correspondência presente no ecrã é Msg. Uma vez nesse menu, podendo circular por ele com uma só tecla igualmente, mas que se movimenta para cima e para baixo, carrego na posição central e entro num outro ecrã que me mostra umas quantas linhas onde posso escrevinhar. São coisas do momento, não é possível deixá-las de lado. Então, pensando que quero escrever qualquer coisa a alguém, nem que seja só um beijo virtual com o objectivo de o concretizar na realidade para muito breve, visualizo a pessoa em questão, aquela a quem quero dizer qualquer coisa, e pronto, vou escrevendo até que não tenha mais imaginação para continuar, o que até é bastante raro, porque eu sou sempre muito criativo. Aliás, tenho por vezes de encurtar as sílabas que compõem as palavras que escrevinho, porque uma simples lembrança como olá ou gosto de ti acabam por se tornar em grandes cartas cujo limite se torna cada vez mais inalcançável, porque há sempre tanto para dizer e tão engraçado, mas fico com receio que soe muito foleiro, e por isso, antes de enviar o que quer que seja enquanto aguardo expectante por uma resposta, muitas vezes dada por uma expressão tão conhecida do destinatário que me faz sorrir, releio e releio algumas vezes até que me decido a deixar seguir as minhas palavras.
São essas pequenas luminescências que me deixam o espírito cada vez mais luminescente, numa de ultrapassar crises histéricas de pseudo-solidão.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Ensaios

Diderot é um filósofo francês do séc. XVIII, mais concretamente do período do Iluminismo. Teve como contemporâneos personagens não menos importantes do que o próprio, como Rousseau e Voltaire.
Esta obra [Paradoxo Sobre o Actor] leva-nos a uma perspectiva muito mais racional sobre a representação do que qualquer outra. É escrita em formato de diálogo, contando com duas personagens masculinas. Aquela que procura explicar a sua teoria pretende representar o próprio Diderot, que assim enuncia a sua tese.
Para que a discussão entre as duas personagens mencionadas continue viva ao longo do texto, são comparados dois tipos de actor: o sensível e o racional. Diderot despreza o primeiro tipo, pois sabe ser um caminho para a mediocridade. Já o actor que trabalha principalmente sobre a mente tem mais possibilidades de ter sucesso. Passaremos agora à descrição de cada um dos tipos de actor identificados por Diderot.
O actor sensível não sabe fazer a distinção entre si e a personagem. Confunde-se consigo próprio, não é capaz de se deixar a si mesmo para passar a representar uma personagem. É certo que para que as personagens existam são necessários actores, cada um deles um ser humano diferente com diferentes histórias de vida, emoções e experiências já passadas, o que contribui para o enriquecimento da personagem, mas o actor não pode passar para cena as razões concretas que o levaram a experimentar determinadas emoções. É necessário que saiba pegar na forma do sentimento para a aplicar ao conteúdo que tem em mãos, o que, segundo Diderot, não acontece. Muito pelo contrário. O texto é diferente, mas a situação que faz a personagem chorar em cena será a mesma pela qual o actor que lhe dá corpo passou. Este tipo de actor não tem um trabalho consistente, fixo ou inalterável. A sua mediocridade leva-o a representar sempre de maneira diferente, o que, à primeira e inocente vista, seria normal, pois nunca ninguém conseguiu repetir as coisas exactamente como elas são, sejam elas o que forem. Contudo, há um senão. A instabilidade emocional e psicológica leva a um descontrolo psico-físico. O choro é um exemplo bastante concreto que ilustra essa situação, porque se o actor começa a deixar-se levar demasiado, acaba por não se conseguir conter e as suas falas serão imperceptíveis ao ouvido do público, isto se o público ainda estiver a ouvir o que quer que seja.
Se não chora, pois então grita, enfurecido e raivoso. Não só tende a cair no ridículo (diferente de risível), como também se desgasta a si mesmo, nomeadamente as cordas vocais. Andar de um lado para o outro a correr, estafado e sem fôlego a pensar que a situação da peça é uma que aconteceu consigo ou que está a acontecer também não serve de ajuda. O actor empírico não tem a capacidade de se abstrair da situação que supostamente está a representar. Pensa que se passa tudo consigo.
O actor racional, por outro lado, funciona segundo o princípio mais antigo do Teatro: a mimese. O actor exponencial trabalha sobre a imitação, não se entregando a emoções disparatadas. O actor racional sabe que é ele que está em palco no sentido de corpo presente, sabe que são as suas capacidades que estão a ser mostradas, sabe que se lhe der uma branca, como se diz na gíria teatral, a culpa é inteiramente dele e não da personagem, porque esta enunciaria o seu discurso de forma espontânea. Contudo, e apesar de ter tudo isto em mente (e não no coração), o actor está a representar. O termo diz tudo. Se alguém escolhesse uma pessoa para ser seu representante, este falaria pela pessoa que escolheu, agiria segundo os seus princípios. Ora, o actor faz exactamente o mesmo. A personagem que representa está apenas contida no texto, que exibe o seu conteúdo. O actor dá-lhe a forma. Isto significa que tem de ser ele, com a eventual ajuda e direcção do encenador (consoante o método de trabalho deste), a criar o feitio da personagem, os seus comportamentos, as suas características físicas e psicológicas que muitas vezes não vêm escarrapachadas nas didascálias, etc. A sua base é a sua experiência pessoal. Repita-se: a base, e não o recurso completo. O actor imita-se a si mesmo, faz uma mimese de si próprio, tal como faz uma mimese de outras pessoas que poderão servir de exemplo para aquilo que se pretende. É imitando que o actor se torna capaz de produzir um trabalho consistente e mais ou menos repetível, pois está tudo na mente. E ainda que procure fazer o mesmo, não se torna monótono ou cansativo, porque o estudo intenso que imprimiu ao seu trabalho permite-lhe manter o ritmo sem aborrecer aqueles que o vêem e ouvem. O coração não é de se confiar, porque ora sente uma coisa, ora sente outra, isto num espaço de pouquíssimo tempo.
Junho 2009
P.S.: Entretanto, passaram quatro anos... Parabéns a nós!

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Lendas

“Olhai, olhai, criaturas felpudas!
Estamos ricos em ouro e alimentos,
Podeis fugir p’ra vossas damas peludas,
Porque não sairemos por suprimentos!
Por isso, escusais de ficar sentados
Que nem quaisquer camelos desolhados,
Saí das portas mestras como rebanho
E aproveitai a chuva p’ra vosso banho.”.

A Padeira de Aljubarrota era o máximo.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

18.

Shall I compare thee to a summer's day?
Thou art more lovely and more temperate:
Rough winds do shake the darling buds of May,
And summer's lease hath all too short a date:
Sometime too hot the eye of heaven shines,
And often is his gold complexion dimm'd;
And every fair from fair sometime declines,
By chance or nature's changing course untrimm'd;
But thy eternal summer shall not fade
Nor lose possession of that fair thou owest;
Nor shall Death brag thou wander'st in his shade,
When in eternal lines to time thou growest:
So long as men can breathe or eyes can see,
So long lives this and this gives life to thee.

Que és um dia de Verão não sei se diga.
És mais suave e tens formosura:
vento agreste botões frágeis fustiga
em Maio e um Verão a prazo pouco dura.
O olho do céu vezes sem conta abrasa,
outras a tez dourada lhe escurece,
todo o belo do belo se desfasa,
por caso ou pelo curso a que obedece
da Natura; mas teu eterno Verão
nem murcha, nem te tira teus pertences,
nem a morte te torna assombração
quando o tempo em eternas linhas vences:
enquanto alguém respire ou possa ver
e viva isto e a ti faça viver.

Soneto 18, Os Sonetos de Shakespeare
Dedicado a MJ

De notar que Os Sonetos de Shakespeare são uma obra geradora de controvérsia, uma vez que uma das teorias que se consideram mais aprazíveis sobre os Sonetos é a de que o Sr. W. H., a pessoa a quem os poemas são dedicados, segundo as supostas palavras do editor T.T. - Thomas Thorpe, seria a paixão secreta de Shakespeare e até um dos actores da sua companhia a operar no Teatro de Outdoor - The Globe, de nome William Hughes (Willie Hews, na grafia isabelina). Sobre este último ponto, é aconselhável a leitura de O Retrato do Sr. W. H., onde Oscar Wilde expõe a sua teoria sobre o alvo da dedicatória.
Contudo, o amor que na verdade se impõe é o de amigo para amigo, pondo de lado a natureza sexual da coisa. É um conceito já proveniente de tempos mais antigos do que o século XVI-XVII, época em que os poemas surgiram. Já os poemas homéricos, do séc. VIII a.C., retratavam esta situação.

Portugal e as Fitas de 16mm

Nunca me deparei com semelhante ultraje em toda a minha vida. Este país é de tal forma imbecil, estúpido e atrasado mental que quase que me dá nojo de viver aqui.
Estes pseudo-técnicos azeiteiros estudantes de Cinema são absolutamente incríveis. Julgam possuir um grande peito repleto de arte e saber, quando são a coisa mais incrivelmente absurda a caminhar sobre esta terra.
A estratégia é muito simples: desenvolvem um projecto com guidelines fornecidas pelo professor responsável, pegam numa câmara para fazer uma maquete e lançam o casting ao público, com o intuito de se fazerem libertinos e democráticos, após terem dactilografado uma história sem qualquer pé ou cabeça.
O actor que está em formação numa escola específica para tal fica a saber do casting, interessa-se por ele, uma vez que pretende juntar mais um nome de um filme à secção de Cinema do seu curriculum vitae, e parte em direcção ao Campo Grande na sua viatura, nada mais, nada menos, para perder o seu tempo e o seu gasóleo.
O objectivo dos pseudo-realizadores, produtores e etc.? Obter um número algo considerável de pessoas que preencheram as fichas de inscrição para o professor responsável estar de cu aberto a presentear os seus alunos com elogios.
Entra, portanto, o interessado num estúdio de duvidosas condições, depois de ser chamado. A equipa apresenta-se, diz o que pretende, e o interessado lê com eles um excerto do texto. No final, depois de concluída esta árdua tarefa, o interessado é convidado a improvisar para um bando de idiotas que designei no início do parágrafo como sendo a "equipa". Até parece que eles, artistas de valiosíssima qualidade, têm noção do que é saber representar. Tendo mesmo a dizer que parece que o interessado está a passar de novo por uma prova de admissão em que a sua capacidade de improviso é avaliada. A questão é que, nesse tipo de provas, os avaliadores sabem efectivamente o que estão a pedir não é caso deste pessoal.
No final, dão a entender com um ligeiro aceno de cabeça e um sorriso algo retorcido que o candidato interessado tem alguma hipótese.
Mas mais fantástico do que isto é o candidato realizar o casting em conjunto com outras pessoas, o que é absolutamente extraordinário, faltando-lhe apenas o prefixo (extra-). O interessado é questionado sobre a sua formação, algo que é completamente irrelevante para o assunto em questão, e é seguidamente questionado uma vez mais, relativamente à personagem que sente que seria capaz de desempenhar. É fantástico que consiga dizer "todas", porque significa que o actor é polivalente e consegue fazer tudo e mais alguma coisa. Segue-se, portanto, uma leitura expressiva, tal como se pretendia, do texto. Enquanto isto acontece, os adversários que entraram em conjunto o candidato não podem dar largas à sua inspiração, porque estão bloqueados. Se, por ventura, forem a ler de uma forma parecida à da primeira pessoa, são imediatamente rotulados como imitadores sem qualquer imaginação. E ainda enquanto isto sucede, são todos filmados de diversos ângulos para ver qual é que tem o nariz mais bonito para figurar à frente de uma objectiva.
No final, os candidatos saem todos contentes e confiantes para, meses mais tarde, virem a descobrir que perderam o seu tempo, o seu combustível, o seu dinheiro e a sua paciência, porque os escolhidos para as curtas-metragens para as quais realizaram o casting são pessoas com uma imagem e um nome já construídos e conhecidos do grande público.
Ora, com tanto filho da puta assim, mais vale vaguear por outros lados em que a capacidade de representação seja valorizada e em que a oportunidade de novos talentos possa surgir livremente, sem a preocupação do envio de uma foto de rosto e de corpo.
Três vivas a este país de hipócritas e retardados!
Hip, hip, horray!
Hip, hip, horray!
Hip, hip, horray!

sábado, 1 de agosto de 2009

Long Time, No See

Much has happened since the beggining of the world. One's life, as short as it might yet be, can never avoid the dances they are forced to.
The human being may travel a lot through the evil landlord's land, but it will always come back, unless it has psichological issues, associated to brain malfunction. Ups and downs can easily get to you if you lend yourself too much. Don't do it. It's not worth it. Just do this: take care of your friends, make new ones, don't forget to water their roots and let life happen like it should, in its own natural course. You won't regret it. Consider these statements as words of advice, and you'll live happily.
See you around.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Lições de Vida

Talvez esteja a ser presunçoso ao dizer isto, mas também tanta gente me acha presunçoso que mais vale o ser de vez: Posso só ter vivido 18 anos, mas foram 18 anos recheados de todo o tipo de experiências... desde aquelas que nunca deveriam existir e pelas quais ninguém devia passar, até a outras que transcendem a felicidade dos mortais...
E durante estes longos 18 anos já aprendi muita coisa da pior forma possível, por isso perdoem-me se acham que estou aqui a fazer um papel moralista ou de pseudo-sábio, mas acho que posso partilhar algo com vocês que interessa.
De tantas vezes bater com a cabeça na parede, de tantas vezes errar e magoar pessoas, na maioria das vezes pessoas que nunca o mereceriam, aprendi a estar mais atento com o que está exactamente à minha frente, já que isso é o que é mais difícil de prestar atenção. Temos constantemente a cabeça focada 10 passos à frente, mas esquecemo-nos que, tal como o cliché diz, temos de dar um passo de cada vez... O ser humano tem tanta ânsia pela busca da felicidade e pela procura da realização total que se perde nessa gula, nessa vontade exacerbada. É assim, eu já passei por isso... E ao fazê-lo atropelei muita gente, inclusive a mim próprio!
Não estou aqui para pedir desculpas a ninguém, nunca me arrependi de nada que fiz, apenas me arrependo do que deixei de fazer, mas o significado que tudo tem para mim é que tudo leva a algum sítio... Todos os nossos actos são seguidos de consequências e a vida baseia-se neste ciclo, nesta bola de neve, na qual às vezes perdemos a noção de quem conduz quem... se somos nos que conduzimos a vida ou se é ela que nos empurra para onde bem lhe apetece.
O que aprendi foi que, antes de tudo, temos de perceber o que realmente queremos... A vontade é muita, mas às vezes não passa de um capricho, disfarçado de certezas...
Temos de saber exactamente o que queremos e agir de acordo com isso, sem nunca desviar o olhar. Desta forma, não somos nós que conduzimos a vida, nem é ela que nos empurra... É tudo um processo fluido, como um riacho que naturalmente nasce, naturalmente cresce e se torna num rio, corpolento, cheio, forte, e naturalmente morre no mar.
Foi isto que percebi...até agora.


Eu sei o que quero!