terça-feira, 6 de outubro de 2015

Beijo Universal

Cala-te. Pára de falar. Não digas mais. Estás a articular demasiado. Refreia o teu processo cognitivo. Não lhe dês desculpas para continuar a arranjar desculpas.
Olha-me nos olhos. O que vês? Tens vontade de argumentar? Ainda queres discutir? Sob que pretexto? Sob que subterfúgio? Sob que sob subterrâneo? Não vale a pena continuar. A realidade não se traduz só em palavras secas, simultaneamente túmidas de jargão orgulhoso. Chega. Basta. Já chega que baste.
Mira os meus lábios. Tem-nos na mira, porque não os miras de facto? Ou porque não os miras na tua mira e na tua mirada de jure? Esquece os factos. Não racionalizes. É de facto desnecessário que me mires através de uma mira factual. Não será o coração um comboio de corda que corda não teve para continuar a bombear o meu sangue arterial, em detrimento do sangue venoso, tão venenoso? Acorda, se sabes que a corda o comboio não teve. Palpita-me que não terás palpitado o suficiente nas últimas e indefinidas unidades de tempo que não precisarei por não precisar.
Sabes quem eu sou, sabes a que saibo, sabes que saibo bem, tal como sei que tu sabes que sabes bem quando degusto os teus lábios de musa, nunca de medusa.
Beija-me, por tudo quanto possuis, possui-me de uma maneira que mais ninguém conseguirá maneirar, percorre-me o dorso com os teus lábios carnudos e ardentes, pontua-me com pontos finais mas não terminais o meu corpo. Bombeia o teu sangue sobre mim, reveste do teu calor o meu corpo despido que de ti nunca se viu despedido. O meu pescoço está marcado pela tua marca, consumiste-me delicadamente como a uma extravagante delícia. Anda, vem, liga os teus lábios com os meus, dá-me a saborear a tua língua, enlaça-te a mim no ardente beijo em que o fogo desta paixão não se apagou.
Agarra-me, prova-me, põe-me à prova, dá-te a provar. O teu corpo desliza sobre o meu num atrito incandescente, ardente, mas não insuportável. Suporto eu o teu peso-pluma sobre mim, apodero-me e aproprio-me de ti, a mais ninguém pertence a essência que vive em ti e que em mim vive, vivendo e fazendo-nos viver, a ambos, aos dois, como a um só.
Por que esperas? Devora-me, se é esse o dever que deves empreender, prendendo-me a ti, ao teu corpo e a nenhum outro, aos teus lábios perfeitos que aos meus se unem como uno, um só.
É ao meu beijo que queres, é o meu beijo o teu desejo, é o meu beijo o teu ensejo, e nenhum outro como o meu é tão inflamável, tão loucamente louco, tresloucado. A banda sonora aí vem, já importada.

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