Meu Amor,
Tenho os meus sonetos guardados para ti, mas hoje não me apeteceu transcrever nenhum deles do caderno de apontamentos. Preguiça não é, falta de criatividade tão-pouco. Felizmente, imaginação é algo que nunca me faltou, e sei que poderei contar sempre com ela.
A Poesia, para mim, é algo simplesmente de ulterior e supremo. Creio que é o melhor género literário a partir do qual consigo expressar de uma forma tão mais bela o que o meu coração não é capaz de manter calado.
Esta noite, esperando voltar a ver-te, não só em sonhos, mas diante de mim, a uma carícia de distância, enquanto me perco nas tuas íris de avelã, sinto que devo bradar aos céus. Bem sei que é de uma loucura a roçar o cliché cinematográfico querer voar até à Lua e voltar quase como que instantaneamente. Mas é como se o seu brilho lunar, de pérola, como não há muito assim falei sobre ela, me chamasse das suas obscuras profundezas, como estando perdida no mar, resguardada pela concha de uma ostra, à espera de ser encontrada. Como se o canto da sereia ecoasse a um ritmo cada vez mais compassado e audível, à medida que a ondulação mergulha de cabeça sobre os grãos de areia túmidos de sal, querendo libertar-se da prisão solitária do oceano, embora não conseguindo à primeira tentativa. Tem por isso de recuperar a força arrastando os seus aquáticos membros pelo agora mais suavizado areal, de regresso ao seu todo, ao seu inteiro corpo, para poder atirar-se em rebentamento e oferecer uma parte de si à praia que procura beijar desde a eternidade.
Eu sinto-me preso, também. Não pensei no devido valor desta analogia, mas não quero, de qualquer forma, complicar este «problema de expressão» com palavras apetrechadas de asas. Deixá-lo-ei para quando escrever outro épico, se tal tiver de acontecer.
Quero alcançar o teu rosto, tornear o teu corpo num abraço e guardar-te apenas e só para mim. A minha rotina continua, assim como prossegue no bom sentido, pois que adormeço contigo no pensamento, sonho contigo na minha imaginação, cuja chama viva é ateada pela força do meu compassado instrumento de corda, desrespeitando o metrónomo quando a mente lhe diz que o beijo de amor está prestes a consumar-se, apenas para ser interrompido pelo despertar, aguardando o final daquela cena téspia, embora não encenada, mas tão real quanto conseguirmos torná-la.
Nada nos impede, é o desejo de dois corações desenhados pela Natureza para se associarem um ao outro em perfeita harmonia.
Amo-te.
Sonha com o arco-íris.
Ti
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