sexta-feira, 13 de janeiro de 2006

Reticências

Oiço a chuva lá fora, a bater na minha janela. Ela bate de uma forma despreocupada, a chuva não tem problemas amorosos, ela não tem obrigações, tarefas aborrecidas que todos os dias as fazemos exactamente da mesma maneira, quase de uma forma impensada. A chuva não tem problemas de relação com as outras coisas, a única relação que ela tem é com o chão onde cairá.
Quem me dera ser a chuva, ou ser apenas uma gota de água, viveria muito mais intensamente, e relacionaria-me perfeitamente bem com todas as outras gotas.
Às vezes sinto que não pertenço aqui, que estou deslocado do meu habitat natural, o problema é que não sei ao certo qual é o meu habitat natural. Se calhar é a nuvem, junto das outras gotas.
Por vezes sinto que ninguém me ouve, e quem parece ouvir-me ou o finge, o faz de forma quase forçada, de uma forma totalmente desinteressada. E, claro, não faltam pessoas a interromperem-me a meio, ou mesmo ainda antes de eu começar a contar como me correu o dia....
Sinto que na nuvem, junto das outras gotas eu seria sempre escutado, e nunca seria interrompido.
Tenho vontade de gritar, de berrar ao mundo que estou mal, mal com tudo. Sinto-me em baixo, sinto-me esgotado tanto física, como mental, e principalmente, emocionalmente. Estou farto de amar ilusões e de correr atrás de sonhos fugazes, ir atrás da felicidade superficial. Se eu fosse uma gota eu estaria sempre feliz, pois saberia que era melhor aproveitar o momento já que, mais tarde ou mais cedo a minha queda final iria acabar com a minha existência como gota.
Sinto-me esgotado, como se a vida tivesse sido sugada para fora de mim, não consigo fazer um movimento que não me faça doer qualquer músculo do meu corpo, não consigo fazer qualquer coisa que não me lembre "dela".
Se eu fosse uma gota não me apaixonaria, evitaria o sofrer em vão...Mas não o posso evitar, não posso evitar este sentimento rompante a que se chama de amor, mas a gota que amo nem sequer põe a hipótese de ser "ela" a minha perdição.
E pronto, está na hora de começar a minha queda em direcção à terra, para depois voltar a subir em forma de gás, voltando à nuvem a que chamo de casa.
Mas antes, um último suspiro enamorado...

1 comentário:

  1. Bom... É um texto triste, e tenho imensa pena em admitir que trocar o sentido do mesmo seja um pouco difícil... Contudo, já te disse várias vezes, e estou sempre a dar-te o meu apoio, dizendo que, embora haja vários factores contra, lhe deverias dizer. Poderia quebrar o clima, tens razão. Mas é um risco pelo qual se tem de passar, para que a consciência fique mais limpa. Gostava de poder ajudar mais, é certo... Mas as palavras, tanto orais como escritas, são a única ajuda que te posso oferecer, neste momento...

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