terça-feira, 13 de outubro de 2015

Escola de Atenas (Manifesto Para Um «Exercício Comentado Sobre a Consciência do Actor em Cena»)

Há corpos que parecem autênticas obras de arte. E quando digo arte, há um encadeamento lógico que se forma na minha mente: Arte, Estética, Belo, Filosofia, Grécia, Atenas. Bem-vindos à Escola de Atenas!
Existe um problema do foro filosófico que tem vindo a perseguir-me, e que faz com que eu me encontre no seio da Escola de Atenas contemporânea. Quem diria que Platão e Aristóteles, mestre e discípulo, caminhariam lado a lado com perspectivas do mundo completamente diferentes?
Encontro-me dividido por duas doutrinas filosóficas que nada têm a ver uma com a outra. De um lado, o Empirismo – aquisição de conhecimento através das sensações, dando primazia aos cinco sentidos. Do outro lado, o Racionalismo – aquisição de conhecimento através da dedução e do intelecto. Tanto um lado como o outro procuram convencer-me dos seus díspares pontos de vista.
Aqui (lado do Empirismo), dão-me argumentos como: “don’t worry, you’ll get it by the hand of time... it’s totally natural, just let yourself go, feel the energy that’s surrounding you. For instance, take my hand. Is it my hand that’s touching the air, or is it the air that’s touching my hand? There’s a whole lot different possibilities…”.
Deste lado (lado do Racionalismo), dão-me argumentos como: “é preciso ter coscienza, não estejam à espera de umas energias quaisquer que vos atravessem o corpo e vos digam para onde têm de ir, vocês é que decidem especificadamente para onde querem ir, é uma questão de coscienza e de decisão”.
Enfim, encontro-me dividido porque, no fundo, não sou capaz de pensar somente, mas também não sou capaz de sentir somente. Dizem-me para falar sem pensar. Não consigo. Uma coisa é indissociável da outra. Como é que eu sou capaz de ter um discurso automático sem recorrer ao intelecto para produzir uma mensagem ou um logos com encadeamento lógico que seja compreensível ao cérebro humano? É impossível.
Outra questão que tem vindo a preocupar-me é a ocupação do espaço. Nos últimos cinco minutos, andei a deambular de um lado para o outro, sempre em linha recta, sem dar uso ao resto do espaço que me rodeia, o que é algo de preocupante para muitos que vêem o actor constantemente no mesmo sítio. Tive em tempos um pedagogo que tratou de me ensinar melhor do que ninguém como é que o espaço deveria ser ocupado. Dizia assim: “vamos ocupar o espaço, isso, isso! Você tem de equilibrar a jangada, senão ela vira-se! Olhe ali uma brecha vazia, corra para lá! Você também! Sinta que está a caminhar sobre areia que está muito quente e que não pode ficar muito tempo no mesmo sítio, senão queima-se! Muito bem, sim senhor, isso é interessante! Guarde isso!”.
Transmissão terminada.

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