domingo, 18 de outubro de 2015

Mudámo-nos


... rumo ao Weebly, muito mais fácil de manusear.
Este blog continuará activo na secção «Thesaurus», que se encontra na barra de navegação, para que toda a nossa história permaneça disponível para consulta, referência, ou mera repetição de leitura.
Encontramo-nos por lá, com diferenças visuais, sem alterações de estilo de escrita.
Clicar sobre a imagem encaminha o leitor para o novo espaço.

sábado, 17 de outubro de 2015

¡Ay!, Linda Amiga,

Escrevo-te. Escrevo-te sempre. Está claro que não te obrigo a ler e, como referi anteriormente, se não conversar sobre isto, hei-de ter uma vontade interior de gritar, o que não quero. Mesmo para dentro, não gosto de arruinar as minhas cordas vocais.
Ao que parece, o Outono começa realmente a fazer-se sentir neste dia. Eu, constantemente tão acalorado, sinto frio. Não só porque o vento sopra vigorosamente, mas porque não estás. É verdade. Tudo o que te tenho dito, de resto, é a mais pura verdade. Não me atreveria a mentir-te. O meu coração é puro. O teu também, sei-o.
Seguramente, lembrar-te-ás da minha falta de jeito a tentar convidar-te para sairmos, na primeira metade do Verão. «Vamos tomar chá, nem que seja iced tea, afinal ainda está calor». Consigo ser tão disparatado que ganho vontade de me rir de mim próprio. Mas tu, tão amorosa, dizes-me que adoras chá e que é uma boa ideia. «Que menina tão saudável!», reparo. E tu, que dizes «só um bocadinho». Rio-me. Mais para mim do que para o exterior, mas, mesmo no meu eu, o gracejo é volumoso, com ímpeto. Toda tu és belíssima. Apelido-te de várias formas, «Bonequinha», «Musa», «Pequenina», «Princesa», enfim. Todo um conjunto de carinhos que vejo em ti, na tua essência. Pergunto-me, por vezes, se não serei demasiado poético. Desculpa, mas deve ser da época. Cinco anos depois do lançamento do primeiro épico. Provoca algumas saudades. Acho que foi por andar a escrever «obras» na última meia década que não regressei aqui. Hoje também me encontro a escrever «obras», mas senti a necessidade de voltar. É talvez um cantinho que deixo reservado para os desabafos. Não tenho por hábito escrever textos completos em cadernos, só alguma ideia que surja subitamente, uma vez por outra. Creio que me é desnecessário rascunhar antes de passar à versão final. Será pessoano da minha parte, eventualmente. Heteronímia, Caeiro. Não guardo rebanhos, mas é frequente fazer versos sem pensar muito. A métrica costuma ser acertada logo à partida.
Disse que não desisto de ti. Reafirmo. Quero tomar chá contigo. Ou o pequeno-almoço. Ou almoçar. Ou jantar. Cear, até. Tanto me faz que refeição é ou deixa de ser. Pode ser apenas um copo. O que não me é irrelevante é a tua companhia. Se não for contigo, pouco sentido fará. Estarei a sós, se não levar ninguém. Não estarei contigo, se quiser levar outra companhia. Não é nenhum raciocínio extraordinário, mas faz-me sentido por enfatizar como a tua presença é importante para mim.
Acredito que seja difícil para ti creres em mim. Se estivesse no teu lugar, porventura tomaria a mesma atitude. Mas isto não passa de uma suposição. Tens uma identidade própria, não sou eu que devo afirmar o que pensas ou o que sentes, jamais teria essa pretensão.
Apenas desejo ver-te, prender-me nos teus olhos. Não preciso de trocar palavras contigo. Não preciso de tocar-te, se achares que deva aquietar-me. Ter-te à minha frente chega-me.
Gosto de ti. Porquê? Não me interessa. Só isso importa.

«Só Acontece nos Filmes»


When Harry Met Sally (1989)
Billy Crystal e Meg Ryan

Quando o cinema tem o condão de mostrar-me o que está a acontecer na minha vida com uma exactidão invejável.

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Medo

O tempo tem passado. O silêncio vai ficando. Por entre os dedos correm-me incontáveis grãos das areias do tempo. Deslizam suavemente, como se aguardassem por uma qualquer interrupção súbita que lhes cesse a queda contínua rumo ao solo, numa espiral interminável, voltando sempre ao princípio, depois de virar a ampulheta uma e outra vez, quantas forem necessárias.
Não me conheces, eu sei. Eu também não te conheço. Por isso mesmo é que gosto tanto de ti. Que tudo o que tivermos de descobrir sobre o outro fique para depois. Só quero encontrar o meu olhar com o teu e nem isso me permites.
Estás a dar-me o tratamento do silêncio. Não me deves nada, claro que não, nem tão-pouco venho cobrar-te o que quer que seja. Sinto-me triste, apenas, repleto de mágoa, que é o mesmo que experimentar um incomensurável vazio no meu interior.
«Sufocante», disseste. Não encontrei o equilíbrio necessário. A ânsia em falar-te era demasiada, mas o silêncio que reinava era avassalador. Ainda hoje o é. Há quem prefira ouvir «não» ao tratamento do silêncio. Pessoalmente, prefiro sempre um sim, ou um não temporário que possa converter-se posteriormente numa resposta positiva, sempre dói menos. Já o verso branco... é poesia que me fere.
Não sou nem nunca fui monstruoso. Nunca sufoquei ninguém, não é agora que me interessa começar. Não agora, não nunca.
Eu sei que tens medo. Não te tenho à minha frente provavelmente desde a Primavera, mas sei lê-lo em ti. Chama-me controlador, obcecado, asfixiante, se quiseres. Sabes tão bem quanto eu que características dessas eu não tenho. Também sei que precisas de ganhar confiança, tu mesma o enunciaste. Mas esta certeza te deixo, se não me deixares provar que podes confiar em mim, então palavra alguma conseguirei trocar contigo. Até esta noite abafada de Verão que não quer partir, mas gélida da solidão que me assiste, tenho vindo a oferecer-te as minhas palavras, não a trocá-las, porque nem disso me fazes digno.
Agora diz-me, sendo assim tão vil como me pintas, dar-me-ia ao trabalho de desejar por ti? Importar-me-ia em desabafar através de um texto que não lerás o quanto me magoa não pronunciares uma única sílaba? Eu não aprecio «dar voltinhas». Não gosto de andar a passear mulheres por luxúria para deitá-las fora na manhã seguinte. Línguas fúteis não falo.
Podes guardar silêncio quanto tu quiseres, mas disto não duvides, eu não desisto de ti. Não é orgulho pessoal, coisa nenhuma. É saber simplesmente que está em ti e em mim a solução para nunca mais voltarmos a perder tempo.
Não desisto de ti.

terça-feira, 13 de outubro de 2015

Escola de Atenas (Manifesto Para Um «Exercício Comentado Sobre a Consciência do Actor em Cena»)

Há corpos que parecem autênticas obras de arte. E quando digo arte, há um encadeamento lógico que se forma na minha mente: Arte, Estética, Belo, Filosofia, Grécia, Atenas. Bem-vindos à Escola de Atenas!
Existe um problema do foro filosófico que tem vindo a perseguir-me, e que faz com que eu me encontre no seio da Escola de Atenas contemporânea. Quem diria que Platão e Aristóteles, mestre e discípulo, caminhariam lado a lado com perspectivas do mundo completamente diferentes?
Encontro-me dividido por duas doutrinas filosóficas que nada têm a ver uma com a outra. De um lado, o Empirismo – aquisição de conhecimento através das sensações, dando primazia aos cinco sentidos. Do outro lado, o Racionalismo – aquisição de conhecimento através da dedução e do intelecto. Tanto um lado como o outro procuram convencer-me dos seus díspares pontos de vista.
Aqui (lado do Empirismo), dão-me argumentos como: “don’t worry, you’ll get it by the hand of time... it’s totally natural, just let yourself go, feel the energy that’s surrounding you. For instance, take my hand. Is it my hand that’s touching the air, or is it the air that’s touching my hand? There’s a whole lot different possibilities…”.
Deste lado (lado do Racionalismo), dão-me argumentos como: “é preciso ter coscienza, não estejam à espera de umas energias quaisquer que vos atravessem o corpo e vos digam para onde têm de ir, vocês é que decidem especificadamente para onde querem ir, é uma questão de coscienza e de decisão”.
Enfim, encontro-me dividido porque, no fundo, não sou capaz de pensar somente, mas também não sou capaz de sentir somente. Dizem-me para falar sem pensar. Não consigo. Uma coisa é indissociável da outra. Como é que eu sou capaz de ter um discurso automático sem recorrer ao intelecto para produzir uma mensagem ou um logos com encadeamento lógico que seja compreensível ao cérebro humano? É impossível.
Outra questão que tem vindo a preocupar-me é a ocupação do espaço. Nos últimos cinco minutos, andei a deambular de um lado para o outro, sempre em linha recta, sem dar uso ao resto do espaço que me rodeia, o que é algo de preocupante para muitos que vêem o actor constantemente no mesmo sítio. Tive em tempos um pedagogo que tratou de me ensinar melhor do que ninguém como é que o espaço deveria ser ocupado. Dizia assim: “vamos ocupar o espaço, isso, isso! Você tem de equilibrar a jangada, senão ela vira-se! Olhe ali uma brecha vazia, corra para lá! Você também! Sinta que está a caminhar sobre areia que está muito quente e que não pode ficar muito tempo no mesmo sítio, senão queima-se! Muito bem, sim senhor, isso é interessante! Guarde isso!”.
Transmissão terminada.

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Falta

As lágrimas nunca serviram de solução para nada.
São só desabafos, pequenos suspiros... que, tanto podem ser silenciosos e ocultos, como berrantes e à vista de todos, para mal dos pecados. Muito raramente se dão a mostrar por motivos de alegria. Mais facilmente surgem pela mão rugosa da tristeza. Mas também é verdade que decidem aparecer, muitas vezes, sem motivo aparente. Talvez se sintam guardadas há demasiado tempo e por isso forçam a sua saída, para respirar ar puro, supostamente tido como mais leve do que aquele que as abafava na zona do interior.
Seja qual for a razão que acompanha as lágrimas e que as transforma, seja em algo que semelha gotículas de orvalho que rapidamente poderão desaparecer, seja em cascatas que insistem em continuamente jorrar, sem possibilidade de fechar a torneira quando se quer, elas surgem involuntariamente. Ninguém chora porque quer. Ninguém gosta de se ver a si próprio ao espelho, com um semblante tingido de vermelhidão à conta das emoções quentes que brotam dos olhos raiados de sangue e se afloram nas maçãs-do-rosto, com lábios secos da respiração ofegante, entortados no desenho que a natureza com tanto cuidado pincelou.
O facto de alguém ter as suas emoções desequilibradas não serve de desculpa para justificar um daqueles momentos que costumam surgir no final do dia, em que alguém se encosta a uma janela que se molha dos dois lados, sendo que do lado de fora a causa é a chuva e, do lado de dentro, as lágrimas. Não serve de desculpa nem tão-pouco é uma razão.
Ninguém pode esperar que seja possível haver harmonia, se o primeiro ponto não se unir ao último, sendo impossível desenhar uma circunferência perfeita.
Existem motivos para chorar que se confundem na sua natureza. São simultaneamente bons e maus. São um só. São saudade. Chorar de saudades... Que acontecimento tão estranho de se definir. Se calhar não se define. Para quê procurar definir coisas? Qual é a razão da racionalidade excessiva? Frequentemente não acaba em bem.
Sentir saudades é bom. É sinal de que anda por aí alguém que faz outrem sentir a sua falta. Sentir saudades é mau. É sinal de que anda por aí alguém que faz outrem ter pena de não estar perto desse mesmo alguém.

Outubro de 2011.

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Valsa de Uma Noite de Verão

Não sou poeta. Nunca o fui nem tão-pouco sê-lo-ei num futuro próximo ou distante. Não sei encaixar numa rigorosa métrica todas as coisas bonitas que ficam bem a alguém apaixonado como eu dizer. Não sei tão-pouco vasculhar no dicionário da minha sabedoria palavras com a mesma terminação do verso anterior que não fiz para espontaneamente poder provocar uma rima cuja sonoridade não vale nada.
Sou daqueles que acreditam mais na demonstração do que no dizer. Prefiro mostrar-te que acordo ao teu lado completamente desperto sem necessidade de aguardar algum tempo até recuperar as acuidades visual e motora depois de ter mergulhado e regressado à superfície do sono que me deixou repousado e em sossego durante mais uma noite em que perto de mim permaneceste. De que me serve olhar lá para fora, através do vidro da janela que os raios de sol beijam de compasso em compasso à medida que lá no horizonte a estrela vai fazendo a sua escalada habitual até ao céu, para te falar de coisas tão disparatadas como a inveja que as flores dos campos sentem ao ver-te passar de vestido primaveril como se tu própria fosses a flor mais bela de um jardim que não possuo?
Ah!, como te quero abraçada a mim em toda a duração dos dias de Verão e do resto do tempo, para que possa sentir-te, mais do que como minha adorada, minha somente, porque embora este seja um determinante possessivo que até pode dar uma ideia errada de mim como pessoa possessiva, não o sou, descansa, simplesmente sinto-me recheado na totalidade do meu corpo e da minha alma por saber que só a mim pertences e a mais ninguém, que só comigo partilhas o teu coração, cujo sangue quente sinto ser bombeado quando te encostas a mim, pele nua sobre pele nua, numa união que agradeço a uma graça divina que, ó sacrilégio maior!, considero estar bem abaixo do que a tua essência representa para mim.
Vem, dá-me a mão e segue-me no épico das nossas vidas, correndo que nem duas crianças tolas que ignoram tudo o que de mau há no mundo e que nos aflige e apoquenta. Não importa que a imagem de um par como nós a rolar pelos campos sob a égide do Sol seja uma coisa já mais do que vista e até enjoativa para alguns, alguns esses que poderão ser cépticos e não acreditam no amor ou então alguns esses que poderão estar já tão marcados pela canção do infortúnio que não têm coragem de se aventurar em algo de novo que lhes traga a esperança que há muito perderam e receiam vir a recuperar, sob pena de ser maior a queda de um pedestal que pretendem almejar e não conseguem. Mas essas questões a mim não preocupam. Quero-te nua sob a lua, quero-me teu vassalo, para que só a ti responda e esqueça tudo o resto. Lembras-te de quando te falo baixinho ao ouvido, num sussurro, mesmo, e te digo para esqueceres tudo e aproveitares o momento? O momento é agora. Não é mais logo, não é daqui a pouco, não foi ontem, mas sempre no presente, cuja construção depende única e exclusivamente de nós, que fugimos ao mundo. Bem que podem procurar por nós, mas bem podem também ter a certeza de que não nos encontrarão. Não somos seres físicos. Não somos dois, sequer. Somos um só e por isso mesmo como uma essência, uma alma, o que lhe quiserem chamar. Por favor, peço-te que me pares, caso esteja a levar-te à exaustão com estas palavras que não queria ter pronunciado, porque, como te disse, se é para falar ou escrever coisas bonitas e apetecíveis ao ouvido, então que venha alguém de fora e que imagine uma sua história a quem contar ou dar a ler, porque nós não temos nada para revelar ao mundo nem eu tenho capacidade suficiente para escrever semelhante coisa.
Sinto-me como um daqueles adolescentes de sorriso de esgar e de olhos muito grandes e fixos numa figura que os chamou a atenção e que ainda procuram perceber de quem se trata, qual a sua aparência, mas não só a exterior, porque essa é visível a todos, mesmo que os olhos do adolescente venham a ver a figura de um outro prisma que mais ninguém consegue adoptar. Eu, assim jovem como me descrevo, procuro saber o que escondes, que segredos guardas, procuro fazer-te um qualquer sinal que te faça olhar para mim no meio da multidão. Tento sorrateiramente destacar-me, mas acabo por não conseguir sair do sítio quando te percebo a mais formosa das que te rodeiam. E eis que um curto olhar de passagem daqueles de quem olha mas não vê surge. Rapidamente voltas atrás na tua passagem para te focares em algo ou alguém que te fez despertar. O que se passa? É a mim que vês? Consegui passar a mensagem? Não... Foi alguém conhecido que encontraste. Talvez alguém mais vistoso do que eu. Talvez um amor antigo. Talvez uma situação constrangedora. Pronto. Aí surge o meu desespero e a minha desilusão. Gostava de poder dizer que não estava de todo iludido, a fim de não poder de maneira nenhuma desiludir-me, mas não é isso que acontece. Estou prestes a rodar sobre os meus calcanhares em passo de vencido pelas circunstâncias e pelas errâncias do caminho, quando sinto uma leve brisa na nuca e um suave toque de delicadas mãos que parece atravessar-me o vestuário para directamente incidir sobre a minha pele, pele que há muito esperava o teu toque, os teus lábios, o teu sopro primaveril. Juro que quase derreti de suores frios quando senti qualquer coisa. Uma vez mais rodei sobre os calcanhares, mas não em passo de vencido, seja esse passo lá como for, que descrevê-lo em vocábulos não sei.
Aqui estás tu. Dignaste-me com a tua travessia por entre as brumas dos diferentes olhares que à distância te cobiçavam para chegares até mim. Sou daqueles que dá uma certa pena que ninguém gosta de testemunhar, por ser ainda mais penoso. Quero dizer que me considero um subterfúgio social tão grande que mal posso acreditar no facto de estares à minha frente. Não sei sequer se se trata de um facto, mero acaso, esperança para durar ou fruto do momento que não ficará por aí até ser colhido e avidamente trincado. Mas a verdade é que vieste.
Porque me olhas assim, com esses grandes olhos que com o brilho da noite se assemelham a pedras preciosas? Porque me sinto assim encandeado? Creio que à distância sentia-me seguro o suficiente para quase te lançar um olhar directo que te trespassasse o corpo, mas agora que te tenho tão perto, não sei o que fazer. É a minha reacção de marca, diga-se. Que faço agora, penso sempre para mim. Quedo-me quieto, à espera que as ampulhetas deixem roçar nos seus corpos finos, delicados e formosos mais um grão de areia, que no tempo real cai com uma velocidade extraordinária e no meu tempo parece uma eternidade. Que isso me aflija, não aflige. De todo. É certo que estou a engolir em seco, mas não quero desviar o meu olhar do teu. Noites assim é que são perfeitas. Não as creio ideais. Creio-as reais dentro da minha imaginação. E podem dizer que é a mesma coisa, só que com os termos invertidos, que eu não vou nesse género de conversas. Se na realidade não puder viver os belos cenários que pinto tendo como paleta o meu próprio arco-íris e como tela o meu mundo, então faço-o na minha cabeça, sendo esta influenciada por um coração melancólico que nesse estado consegue a melhor das inspirações.
Começa a sinfonia dos vidros que roçam uns nos outros, as facas e garfos que ficaram abandonados nos pratos cuja vibração ainda os faz tinir, as cadeiras que são arrastadas para trás numa incrível falta de delicadeza, os passos dos restantes intervenientes e as caudas dos vestidos que vão varrendo o chão da pista brilhante. Que poético da nossa parte termo-nos poupado a semelhantes ruídos.
Sim, parece que já estavas a antecipar o momento e quedaste-te junto a mim para darmos início ao êxtase nocturno daquela noite de extremo calor. O que é mais incrível é que ninguém nos viu. Desaparecemos como que feitos pó no ar. Ou foi um sonho ou... Não sei. Visto um misto de cores de origem incerta e ainda fiquei surdo de ínfimos estímulos sonoros, acompanhados de odores afrodisíacos que me deixaram arrumado para o resto da noite, que já não era noite, mas sim dia. Foi então que acordei e levei-te lá para fora agarrada a mim, como te encontrara a meu lado no momento do despertar. Senti-me como a pessoa mais feliz do mundo depois de me teres dado a tua mão nesta tão tua e única valsa.